Memória LEOUVE

Um velho jogo que nos engana sempre

Um velho jogo que nos engana sempre

Crescem a cada dia os rumores de um possível perdão a quem praticou caixa dois em campanhas eleitorais. O ruído vem de Brasília e quando tais coisas acontecem por lá, pode apostar: vem chumbo grosso por aí. Chumbo grosso na nossa fé de que as coisas tem jeito. Porque em se tratando de safadeza a classe política sabe como ninguém jogar o jogo.

 

 

Teve até almoço em que estiveram presentes ministros do governo Temer, o presidente do Congresso, Rodrigo Maia e, pasme, o presidente do TSE, Gilmar Mendes. Busca-se construir uma lei pela qual passem os elefantes no buraco da agulha. Caixa Dois, afinal segundo o próprio Emílio Odebrecht, sempre foi um modelo reinante no país.

 

Traduzindo ainda um pouco mais, trata-se da continuidade de implementação da estratégia pregada por Romero Jucá enquanto Dilma ainda era presidente. Era preciso afastar a presidente para estancar a sangria. Estancarão a sangria criando lei para anistiar políticos que utilizaram o caixa dois. E as empresas, poderão ser anistiadas também? Tenho um conhecido que não recebe restituição de imposto de renda há uns dois ou três anos porque foi encontrada uma inconsistência de 40 reais na declaração dele. Estou falando de pessoa assalariada, daquelas que não teriam que declarar caso a tabela para isentos fosse reajustada pela inflação anualmente como tudo é.

 

Este é o Brasil em que somos obrigados a viver. Caixa dois, só pra refrescar a memória, é dinheiro não declarado. É sonegada ao erário – portanto aos cidadãos – a sua origem, normalmente ilícita, advinda de superfaturamento em obras públicas. Não se paga imposto sobre caixa dois. Mas nós somos obrigados a consumir remédios pagando imposto; dar leite aos filhos pagando imposto e tudo o mais.

Não quero nem falar de quem já foi condenado pelo mesmo crime. Se foi está certo, tinha que ser. Querem fazer uma lei para anistiar? Tem que ser daqui para a frente e não retroagindo.

 

Muito difícil qualificar esta tentativa de anistia absurda. Simplesmente ultrajante.