Memória LEOUVE

Um remendo pra emenda

Um remendo pra emenda

É evidente que ninguém pode negar que controlar os gastos públicos e impedir que o governo gaste mais do que arrecada é uma condição fundamental pra fazer o país voltar a crescer, e que, nesse contexto, determinar um teto para os gastos do governo serem apenas corrigidos pela inflação por um período de 20 anos pode mesmo parecer uma saída mágica.

 

O que a gente não pode é achar que somente isso vá resolver o problema, porque nós bem sabemos que há mecanismos suficientes para burlar as restrições legais por aqui, não é?

 

E nem tudo parece ser perfeito na proposta que pretende mudar a Constituição, e eu acredito que algumas coisas precisam ser revisadas, principalmente onde ela acaba com a vinculação das verbas destinadas à educação e à saúde.

 

Estes dias ouvi alguns defensores da proposta dizerem que ela não vai reduzir necessariamente esses investimentos, porque os congressistas poderão aumentar, desde que tirem o dinheiro de outras rubricas.

 

Mas alguém consegue acreditar nisso?

 

Ora, se a intenção fosse mesmo essa, então pra quê mudar um mecanismo que já cria restrições de aumento de gastos exatamente porque estabelece um percentual da arrecadação e que, é óbvio, fica menor se a arrecadação também cai?

 

Outra que eu confesso que não entendi é que, caso a medida de controle dos gastos não seja cumprida, o castigo será não dar aumento a parlamentares, ministros e até pro presidente acima da inflação.

 

Mas peraí: então a ideia de controlar os gastos deixa de fora todos os megassalários dessa gente enquanto acaba com qualquer chance de aumento real no salário mínimo?

 

Tem alguma coisa estranha nisso, você não acha?

 

Eu proponho o seguinte:

 

Que tal se a gente congelar os salários do presidente e dos deputados e senadores?

 

Assim, os políticos em Brasília poderiam fazer sua parte e congelar, pelos mesmos 20 anos, os seus vencimentos. Que tal?

 

Podemos incluir na lista também os juízes federais e também os que integram as cortes mais altas da república. Tudo bem até aí?

 

 

Porque até agora parece que, quando o presidente Michel Temer disse que iria cortar na carne, ele se referia apenas aos generosos cortes oferecidos aos deputados no megabanquete pago com dinheiro público pra garantir os votos pra aprovar a emenda.

Faça isso, senhor presidente. Congele o seu e o salário de todos e vamos todos dividir esta dívida. O que você acha?

 

E que tal se a gente passar a régua e estender essa medida a governadores, prefeitos e demais servidores de alto escalão dos governos? E se a gente aproveitar a ideia e acabar com as tantas mordomias que os poderosos ganham além dos salários?

 

E não adianta vir dizer que os políticos precisam ganhar bem porque se não eles serão alvos fáceis pra corrupção porque todos sabemos que mesmo com os altos salários eles sempre querem um por fora, não é?

 

Quem sabe assim, daqui a 20 anos, a gente não vai ter depurado definitivamente a nossa política, hein? Mas não dá pra ter muita esperança. Afinal, remendo novo em pano velho esgaça.

 

 

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