Memória LEOUVE

Um novo grito de campeão

Um novo grito de campeão

Ontem, definitivamente, foi um longo dia, na verdade, um dia que ainda não terminou. Desde a madrugada, a gente acompanha aflito as imagens e notícias primeiro desencontradas, depois esclarecedoras, e sempre terríveis, da queda do aviâo que levava o time da chapecoense para a Colômbia.

 

No início, o que chegava da Colômbia eram peças desconexas de um quebra-cabeças que, aos poucos, foi se encaixando pra montar uma das maiores tragédias aéreas do nosso tempo, e definitivamente, um terror que chocou, e ainda choca, a todos nós.

 

O avião que levava a equipe da Chapecoense para Medellín caiu nas proximidades da cidade deixando 71 mortos entre os 77 ocupantes. Apenas seis sobreviveram, e ainda não se sabe em que condições eles ficarão entre nós.

 

Definitivamente, este dia 29 de novembro ficará marcado pra toda a nossa vida. Pra mim, em particular, porque era o dia do meu aniversário, mas principalmente porque eu tenho que confessar que, nesses 52 anos de vida e nos quase 30 anos de profissão, foram poucas as coberturas que doeram tanto fazer.

 

Primeiro, porque todos nós sabemos como o esporte provoca a emoção e a paixão das pessoas. Depois, porque uma tragédia dessas envolvendo as circunstâncias de um time pequeno que finalmente se descobre entre os grandes e vê o sonho acabar drasticamente antes mesmo de começar é mesmo muito triste.

 

Depois, porque os atletas são sempre os grandes protagonistas de momentos inesquecíveis, vitórias e derrotas que sempre mexem com o coração e com a mente de todos os torcedores. Afinal, porque são eles, os atletas, os técnicos, os dirigentes, que fazem o espetáculo brilhar.

 

Mas também porque a tragédia de ontem levou também conhecidos da profissão, amigos de tempos, de coberturas, de microfones e pautas, outros que eram admirados pelo trabalho de quem leva a emoção que, por exemplo, o futebol provoca, para os milhões de torcedores espalhados mundo afora.

 

Porque a tragédia aproximou os artistas da bola de outros, não menos artistas, mas da informação. Ontem, a tragédia nos levou jornalistas das tevês, das rádios, dos jornais e da internet, e é mesmo absolutamente simbólico que esse acidente nos aproxime tanto dessa ligação explícita entre nós, que levamos a informação, e os artistas que estão diante da cena fazendo o espetáculo.

 

Porque, sem eles, não há espetáculo; mas sem nós, do outro lado, o espetáculo também fica menor e mais pobre.

 

Pois hoje, desde ontem, no dia que ainda não terminou, todos ficamos mais pobres e ainda mais pequenos diante da vida, do destino, da tragédia e do imponderável. Mas é preciso seguir, porque todo artista sabe que o show, e o jogo, ainda deve continuar.

 

Hoje, o palco está escuro e as cortinas estão fechadas. Hoje, a bola parou. Mas ela está ali, de novo no centro do campo, esperando um novo toque que virá, uma nova descrição da jogada, um novo drible desconcertante, uma novo foto de capa, um novo gol de placa, uma nova narração que emociona, um novo grito de campeão.