Memória LEOUVE

Um governo que deve favores

Um governo que deve favores

Eu vou afirmar aqui por uma primeira vez: é uma crise bastante aguda de governabilidade essa que afeta Bento Gonçalves desde o final do primeiro governo de Guilherme Pasin e que se arrasta nos primeiros meses deste segundo mandato para o qual foi reconduzido com votação consagradora.

 

Para Pasin, é importantíssimo estancar a sangria desta mensagem ruim que o governo está passando nesse dois primeiros meses de 2017, e eu podia lembrar aqui a crise que persiste na saúde e outras mazelas, o atraso no 13º dos servidores, os apontamentos do TCE, os restos a pagar, a imprevisibilidade financeira, mas estou me referindo apenas à questão do toma-lá-dá-cá dos cargos públicos na cidade.

 

Não é à toa o imbróglio que vivenciamos na semana passada, com a exposição gratuita do vereador Amarildo Lucatelli no episódio que envolveu sua nomeação irregular para a direção do Ipurb. O vereador, que já exercia a liderança do governo na Câmara, definitivamente não precisava passar pelo constrangimento a que foi submetido.

 

Ele deveria ter sido poupado, primeiro, porque fez uma importante votação ao Legislativo e ajudou na eleição do prefeito e da maior bancada de apoio ao governo, depois, porque, se ele tem suas limitações, todos nós as temos. A verdade é que a culpa de ter sido indicado para o Ipurb não é dele. Aliás, ele nem queria assumir, mas permanecer na Câmara para a qual foi eleito e onde, vamos ser sinceros, deveria permanecer.

 

Mas Lucatelli foi para o sacrifício e aceitou um outro cargo. Eu não aceitaria, mas Lucatelli fez o que fez porque é leal a um governo que deve favores.

 

O que fica desse episódio é exatamente isso: a certeza de que não é o mérito, a competência ou o saber fazer o critério que define quem ocupa os cargos de confiança em Bento Gonçalves, e não é um entendimento conceitual sobre as funções do Estado o que determina o tamanho da máquina, como Pasin tentou fazer acreditar.

 

E isso que o prefeito já havia anunciado uma diminuição do secretariado, dos cargos em comissão, e a instalação do tal “Estado necessário”. E isso não está acontecendo. O que parece é que Pasin estava tentando vencer o fisiologismo no cansaço, porque no convencimento não deu. Para seus apoiadores, as necessidades são outras.

 

Chamar esse pessoal às falas, mostrar que o poder é do prefeito e que a situação exige esforço de todos não deu certo. Ao contrário, a pressão continuou e ficou ainda mais forte, a ponto de forçar uma quase total capitulação e uma reedição do inchaço da máquina pública.

 

 

A verdade é que temos um prefeito refém dos partidos que o apoiaram, ao contrário do que ele dizia, que seriam os partidos que deveriam se adequar. Mas, infelizmente, e ao que tudo indica, Pasin perdeu essa queda de braço.