Memória LEOUVE

Um cheque para Temer e o recall dos delatores

Um cheque para Temer e o recall dos delatores

Nessa semana que inicia com a véspera do feriado que comemora a República brasileira, muito pouco há o que comemorar. É que o Palácio do Planalto acusa o golpe e já não consegue disfarçar a preocupação com os sinais cada vez mais fortes de que a coisa tá ficando feia. De um lado, a Lava Jato começa cada vez mais a chegar perto da Alvorada; de outro, é cada vez mais provável que o Tribunal Superior Eleitoral pode recomendar a cassação da chapa Dilma-Temer sem a separação de presidente e vice no processo das contas da campanha presidencial de 2014, como tanto quer o atual presidente Michel Temer.

O problema é que, enquanto Temer tenta desvincular a campanha de vice da campanha de Dilma, tentando provar que só a campanha de Dilma recebeu grana suja da propina, uma verdadeira bomba explodiu no seu colo: um cheque de um milhão de reais da empreiteira Andrade Gutierrez, atolada até o pescoço no petrolão e em outros escândalos de corrupção país afora, que foi depositado na sua própria conta de campanha.

O tal cheque confirma o pagamento da propina já admitido pelo ex-presidente da Andrade Gutierrez e hoje delator da Lava Jato, Otávio Azevedo, mas desmente categoricamente o destino do dinheiro: não o diretório nacional do PT, como disse Azevedo, mas a conta de campanha de Michel Temer, devidamente assinado pelo senador Eunício de Oliveira, então tesoureiro do PMDB.

Não bastasse a tensão que páira no planalto central por conta da iminência da delação de Marcelo Odebrecht e de outros 50 diretores da empreiteira baiana, que promete entornar o caldo da República de vez, o caso do cheque amplia ainda mais o medo de que o governo Temer tenha a vida ainda mais curta que o final de 2018.

O certo é que enquanto o TSE e a Lava Jato começam a voltar suas baterias para emplumados tucanos e os novos poderosos da República peemedebista, cresce a possibilidade cada vez mais forte do Congresso aprovar regras pra botar panos quentes nas investigações e limitar possíveis danos provocados pelo avanço das ações contra a corrupção neste país de botocudos.

Agora, o MP acena com um possível recall dos delatores que omitiram informações para a Lava Jato. Eles serão convocados a prestar novos depoimentos nas próximas semanas. Entre eles estão representantes das empreiteiras Camargo Correa, Queiroz Galvão e da própria Andrade Gutierrez, que deixaram de detalhar supostos esquemas de propina pagos pra tocarem obras dos governos tucanos de São Paulo e de Minas Gerais nos tempos de José Serra, Geraldo Alckmin e do mineiro Aécio Neves.

O certo é que nos próximos dias todas as dúvidas vão começar a se dissipar, seja no TSE seja na Lava Jato, e por isso o pânico nos três poderes de que todos os políticos e partidos sejam jogados na fogueira, arrastando o congresso pros quintos dos infernos.

 

E mais certo ainda é que vivemos um período de necessidade de depuração eficiente. E, pra isso, é preciso apoiar todas as investigações e não deixar passar qualquer manobra que tente manter toda a sujeira de décadas e décadas debaixo dos tapetes da República.

 

 

É por isso que eu sempre digo: prudência, cheque ao portador, distância de empreiteiras e canja de galinha não fazem mal a ninguém.