Um escárnio, um acinte. Reproduzo a qualificação dada pelo senador Robert Requião à nomeação do ministro da Justiça Alexandre Moraes para ser Ministro do STF. Era Moraes, o homem de confiança ou Ives Gandra, um jurista renomado mas extremamente conservador, parece personagem de um livro de José de Alencar.
Pois Michel Temer escolheu o que lhe é mais próximo e não teve qualquer pudor em apontar alguém da sua equipe para tão dignitário cargo. Compara-se a escolha àquela feita pelo então presidente Lula ao escolher Dias Toffolli. Sempre é bom lembrar que Toffolli fora advogado do PT, portanto alguém assim como Moraes, que tem um sentimento de gratidão a quem o escolhe e a quem deverá possivelmente julgar, ou no mínimo julgará processos de interesse de que o nomeou. Diria-se que é do jogo.
Sempre na Corte haverá dois, três ou quatro que simpatizam com o governante, alguns indiferentes e outros contrários. Ao nomear alguém próximo o governante tenta fazer a balança pender para o seu lado. É do ser humano.
A escolha de Temer já seria suficientemente explosiva, mas ganhou cores mais marcantes por vir poucos dias após a nomeação de Moreira Franco – exaustivamente citado na operação Lava Jato ao ministério e concedendo-lhe foro privilegiado. E, menos de uma semana o Presidente comete os mesmos erros que ele, seus pares e a sociedade haviam condenado no governo do PT.
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Então, porque é que o povo não sai às ruas para protestar? Porque é que a grande mídia parece já nem se escandalizar? Questão de perspectiva eu diria. Do PT e de seu governo se esperava a ética que este partido sempre teve como bandeira de luta enquanto oposição. O PT traiu a confiança de seus eleitores. Algo que em absoluto Temer está fazendo.
Não custa lembrar que temer só se elegeu vice-presidente graças a Dilma e Lula. Mas seu ideário e os grupos que ele defende são completamente diferentes. Sua missão depois da deposição de Dilma era tentar colocar o Brasil nos trilhos. Mas ninguém perguntou para que norte vai esta ferrovia. Em que destino e por quais atalhos o Brasil pretende chegar.
A Temer foi dada uma carta branca de poderes praticamente irrestritos. Dele não se espera o que se exigia de seus antecessores, simplesmente por que ele parece estar do “lado certo”. O acinte nas recentes nomeações não teve nem terá a capacidade de indignar o Brasil. Isto porque não se espera ética de quem sempre esteve do outro lado, quem sempre costurou os interesses do partido e do Congresso. E todos sabem que tipo de interesse norteia o Congresso. É da vida, infelizmente. Mas o pior é que tais nomeações, tais ações, nos indicam que tudo será possível daqui para a frente e já há quem ponha em dúvida que em 2018 se tenha uma nova eleição para presidente. Seria bem plausível que tentassem prorrogar um mandato que já foi mesmo obtido de uma forma duvidosa.
