Memória LEOUVE

Silêncio, solidariedade e luto

Silêncio, solidariedade e luto

Tem dias que é assim, a gente prefere sentar quieto num canto e só observar. Foi o que fiz ontem. Acordei ás 6h30min e vi que meu dia e de todo mundo seria diferente. Não é todo dia que cai avião e sempre que um cai é aquele torpor, aquela comoção. Tristeza que nos pega como se tivéssemos perdido alguém no acidente ainda que não conhecêssemos ninguém.

 

AÍ ontem não caiu “só” um avião. Caiu um time que vinha se transformando em xodó do Brasil. Um time pequeno, lá do interior com carreira meteórica e sem jogadores de renome. Haveria comoção de qualquer jeito, mas a Chape? Ela era diferente.

Morreram pessoas que tinham a nossa simpatia. Além do time, foram 20 jornalistas. Narradores, cinegrafistas, repórteres e comentaristas. A comoção é tripla: caiu um avião, morreu um time inteiro e morreram jornalistas que entram na casa das pessoas pra falar de algo que gostamos tanto, o futebol.

Aí vieram as manifestações, as entrevistas, os gestos dos clubes, alguns repórteres errando a mão pra ter entrevistados indo às lágrimas como se isto fosse trazer mais audiência, Também teve errata ou retratação, o que só mostra que às vezes um fato tem uma dimensão tão grande que até jornalista experiente e vitorioso como o Gilberto Dimenstein admitiu ter errado na cobertura. Pediu desculpas por isso.

 

Mas, aí vem o Paulo Paixão e fala de forma resignada ante o desígnio da vida que lhe tomava o segundo filho na casa dos trinta e poucos anos. Grandioso, disse não ter nada a reclamar do “bom Deus”. Mas que lição.

Assisti ao Jornal Nacional, como sempre faço. Uma cobertura digna e comovente.

 

 

Vimos o verde tomar conta das redes sociais, dos estádios e da TV. Preto é luto, mas ontem e hoje verde é luto.

 

 Vemos hoje, clubes de futebol se oferecendo pra ajudar. O adversário da final da sulamericana, o Atlético Nacional da Colômbia abrir mão do título: deem a taça à Associação Chapecoense, disseram à Conmebol, que ainda hesita.

Jogadores do mundo todo fazendo minuto de silêncio no treino. Faixas em estádios do exterior escritas em português, capas de todos os jornais falando da tragédia e demonstrando uma sensibilidade que o mundo às vezes parece ter perdido.

Chapecó fica a 300 ou 400 quilômetros da Serra. São nossos vizinhos de porta, são nossos irmãos na alegria e na dor. A Chape foi grande e continuará sendo. Infelizmente marcada para sempre por um título que veio de uma maneira que ninguém queria.