Memória LEOUVE

Quero meus amigos trabalhando

Quero meus amigos trabalhando

No caminho de casa para o trabalho – são apenas quatro casas – passo por muitas pessoas que diariamente também fazem o seu trajeto. É assim com todo mundo que mantém uma certa rotina. Ultimamente, porém, também passo por rostos novos e já deixei de ver alguns com os quais estava habituado. Já não usam diariamente a mesma calçada.

Mudaram de casa, de trabalho, ou pior, perderam o emprego, assim como mais de 11 milhões de brasileiros. Muitas novas pessoas que vejo estão meio a esmo, olhar perdido, em busca de ideias, soluções, ou antes, procurando por aquele famoso aviso na porta de um estabelecimento: “contrata-se balconista”.

Ontem mesmo, um antigo entregador de jornal, hoje já homem feito perto dos 30 anos me parou e perguntou se eu não saberia onde estavam contratando para trabalhar. O ar era de desalento e certo desespero. Não, eu não sabia.

Aliás, no setor das comunicações a coisa anda feia também. São sempre quatro ou cinco colegas que sempre vi trabalhando que agora se viram como podem. Na falta de oportunidades ocasionada pelo enxugamento de redações ou estúdios, acabam se aventurando na internet – que democratizou oportunidades. Mas é mais gente disputando o mesmo quinhão publicitário de antes. Bem, não é o mesmo, reduziu muito pela crise. Multiplica-se a concorrência, diminuem as chances de sucesso.

Agora vejam, o cadastro geral de empregos aponta, e o setor da UCS que acompanha o assunto, aponta para o fechamento de vagas. Foram 2.691 vagas a menos no mês de abril na região de abrangência da Universidade, ou seja, cidades aqui da serra. Em Bento nos últimos 12 meses acabaram 2.500 empregos formais.

Olha, nem nos anos 80, a década perdida, em que a inflação chegava a 80% num mês, se viu algo semelhante. Havia crises setorizadas. A região calçadista do Vale do Sinos, a vestuário na região de Americana em São Paulo. E aqui na serra a preocupação era com a diversificação da economia exatamente para que não sofrêssemos com crises pontuais.

De quem é a culpa? Ora, certamente o Governo hoje afastado tem erros crassos; a oposição que não deixou governar certamente não contribuiu para que a situação desanuviasse.

 

Por hoje queria poder separar a crise política da econômica. Que briguem para ver quem vai indicar mais apadrinhados nas estatais. OK? Mas deixem a economia andar. Quero meus amigos com trabalho e voltar a ver os mesmos rostos, nos mesmos horários quando vou ao trabalho. Definitivamente, não é pedir muito.