Memória LEOUVE

Quatro rounds de um governo em pé de guerra

Quatro rounds de um governo em pé de guerra

Como aquele lutador desafiante que espreita o adversário poderoso no octógono, não está fácil a vida do prefeito de Caxias do Sul, Daniel Guerra, nesses 120 dias de um governo em pé de guerra. A verdade é que o choque de realidade ao assumir a chefia do Executivo mostrou que a campanha ficou definitivamente pra trás e que, sentado no gabinete maior da cidade, não adiantam somente a técnica apurada e as boas intenções.

 

Guerra sabe que até os melhores lutadores perdem por nocaute, mas, passados os quatro primeiros rounds, o governo em pé de guerra parece sentir o golpe, acuado na grade por suas decisões cada vez mais serem colocadas em dúvida.

 

E os golpes vêm de todos os lados.

 

Hoje, Caxias convive há quase vinte dias com uma greve dos médicos que não parece ter hora pra acabar, e que, no mínimo, demonstra uma incapacidade de diálogo do governo em pé de guerra que obrigou até a Justiça a mediar a situação como o juiz que separa o abraço pra parar a luta.

 

Ainda na Saúde, a promessa de abrir a UPA da Zona Norte no primeiro mês de mandato se espatifou no primeiro dia de governo como um golpe no vazio e ainda é incerta. Na semana passada, o processo pra definir quem vai tocar a UPA terceirizada foi adiado pela segunda vez, e ainda está difícil saber se a promessa renovada de abrir a unidade até o final desse ano vai se tornar realidade ou se vai ser derrotada por pontos.

 

Outro golpe certeiro nas pretensões do senhor prefeito veio da Justiça do estado, que determinou a necessidade de revisão do valor das passagens de ônibus, congelada por uma decisão do conselho e que é um dos grandes triunfos do governo em pé de guerra, junto com a liberação das conversões, o fim dos penduricalhos e a diminuição no reajuste da água.

 

Pois a prefeitura deve ser notificada hoje e já avisou que vai pedir revanche, numa franca trocação com a Visate anunciada na campanha e que não tem data pra acabar.

 

Pra fechar esse cerco, o Ministério Público considerou ilegal e abusivo o ofício do governo em pé de guerra que declarava extinto o mandato do vice-prefeito Ricardo-faz-que-vai-mas-fica-Fabres depois do episódio farsesco da renúncia e da desrenúncia, que virou trolagem nas redes sociais e foto dos cem dias sem vice na parede do gabinete do prefeito.

 

Guerra sabe que o caminho é difícil e tem adversários, golpes duros e traiçoeiros. E que muitos tombam pelo caminho, porque, às vezes, é mesmo difícil aguentar.

 

 

O certo é que Guerra precisa reagir, e tem tempo pra isso. Basta saber que, pra ganhar, é preciso saber perder, entender que muitas vezes é preciso recuar pra preparar o golpe certeiro, e assimilar os revezes pra retomar o equilíbrio e encaixar a técnica, a humildade e a disposição que fazem um verdadeiro campeão.