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Quanto vale o vereador?

Quanto vale o vereador?

Se você fizer uma pesquisa rápida em qualquer site de busca vai encontrar pelo menos uma centena de ações para diminuir os salários dos vereadores em todo o país. Talvez não seja esse o ponto, mas até aí, tudo bem, é mesmo preciso debater a função e quanto vale o trabalho dos vereadores em qualquer cidade, em Porto Alegre ou em Jericoacoara, lá no litoral do Ceará.

 

O problema é que, muitas vezes, esse debate vira oportunismo, hipocrisia e desconhecimento. Outras vezes, o debate nem sequer acontece. E isso sim não é saudável, porque simplesmente ignora uma vontade popular e mostra no mínimo uma insensibilidade dos vereadores em relação ao povo por quem eles foram eleitos pra representar.

 

Em Porto Alegre, os vereadores ignoraram solenemente os apelos das ruas e aprovaram um aumento de quase 10% nos próprios salários, e não há sinais de que o prefeito não vá sancionar. No mínimo, um sinal de que a crise não é com eles.

 

A mesma insensibilidade aconteceu em Caxias, onde a Câmara simplesmente desqualificou quase a metade de um abaixo-assinado que pedia a redução dos salários, e ontem os vereadores enterraram de vez a iniciativa, alegando inconstitucionalidade na emenda que pretendia reduzir os vencimentos em 40%.

 

Em Bento Gonçalves, a iniciativa chegou com uma novidade: se antecipando à iniciativa popular, uma dezena de vereadores protocolou um projeto para reduzir o número de vereadores para a próxima legislatura. Precisa de 12 votos favoráveis pra passar, e ninguém que conhece os bastidores do Legislativo do lugar aposta um tostão que seja aprovado.

 

A verdade é que os vereadores perderam uma grande oportunidade pra estabelecer um debate saudável sobre o papel da Câmara, dos vereadores e da população na organização política e na decisão de rumos de sua cidade.

 

Mas tanto em Caxias, Bento ou Porto Alegre, como em Canoas, Flores da Cunha e Montenegro, e centenas de outras cidades gaúchas que já conseguiram ou querem a redução, pagar 3, 5, 7 ou 10 mil reais por mês não é o fundamental.

 

O que a gente precisa mesmo é valorizar e fiscalizar o trabalho da Câmara, cobrando dos vereadores na mesma medida do que eles ganham.

 

O certo é que apenas fazer um projeto para reduzir o salário de vereadores não terá sentido e não vai resolver o problema da crise da política e dos políticos.

 

 

Quem sabe não seria a hora de debater os limites que a Constituição Brasileira define para os gastos das Câmaras de Vereadores no país? E que tal exigir uma dedicação maior do seu vereador? E se cobrássemos uma formação política pra que ele possa exercer a função? No fim, o benefício seria muito maior do que uma simples redução de postos ou salários. Seria uma qualificação política pra nós e pra eles.