Escolas em situação precária, professores com salários parcelados, estudantes ocupando colégios na capital, a situação da educação no Rio Grande do Sul, definitivamente, não é das melhores.
E deve piorar a partir desta semana, porque os professores decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. Quem paga a conta são os alunos, que depois vão precisar recuperar as aulas perdidas; são os pais, que muitas vezes não terão o que fazer com suas crianças e adolescentes; é toda a sociedade, que vê a crise se aprofundar sem solução à vista.
Os professores pedem um reajuste salarial imediato de 13% referentes a 2015, e 11,36% em relação a 2016, e a implantação do piso nacional do magistério, que pelo sindicato está defasado em quase 70%.
Além disso, pelo menos seis escolas de Porto Alegre foram ocupadas pelos estudantes, pais e professores.
Eles pedem melhores condições para estudar ao mesmo tempo em que as unidades de ensino reclamam de atrasos nos repasses do governo gaúcho desde janeiro.
O governo desmente a acusação, e diz que depositou na semana passada quase R$ 6 milhões nas contas das escolas estaduais para a manutenção, e que, no ano passado, fez o "maior investimento em educação da década", aplicando 33,7% da receita líquida do estado.
Em nota, o governo pede que o acesso dos professores e alunos às escolas seja garantido, e diz que a secretaria da educação terá "postura de diálogo transparente e respeitoso com toda a comunidade escolar gaúcha".
Mas é exatamente aí que o giz arranha o surrado quadro-negro.
Repetindo a choradeira da crise financeira do estado, o governo Sartori tem se caracterizado por impor suas decisões impopulares de cima pra baixo e sem ouvir ninguém.
É assim no parcelamento dos salários, foi assim na aprovação do aumento do ICMS, está sendo assim pra garantir a volta dos pedágios.
Por isso, é difícil criticar os professores, mas é preciso também garantir o que diz a lei, quando afirma que o direito de greve é legítimo, contanto que não cause danos ao conjunto da sociedade.
Por isso, é proibido que qualquer categoria profissional prejudique toda a sociedade, mesmo na justa razão de obter melhores condições de trabalho e remunerações.
Por outro lado, os nossos professores há décadas pagam a conta dos problemas de caixa do estado, e são aviltados em condições precárias de trabalho, na falta de segurança nas escolas e na distância entre o que ganham e um salário realmente digno como exige a função, ou melhor, a missão.
Por isso, não podemos ficar contra os professores nessa hora.
O que precisamos é exigir dos dois lados, governo e CPERS, que estabeleçam um diálogo franco e honesto em busca de uma solução que encaminhe o que todos queremos: uma educação de qualidade para nossos filhos e netos.
É preciso afirmar que a educação é o setor mais importante de uma sociedade, porque ele é o construtor do futuro, e que os professores precisam de salário para lecionar preparados.
Se os deputados recebem um salário digno, e é justo, porque deles se espera que façam as leis de uma sociedade mais justa; se os magistrados recebem um salario digno, e é justo, porque deles depende a liberdade dos inocentes e a punição dos culpados; se os médicos recebem um salário digno, e é justo, porque deles depende a continuidade da vida; então não seria da mesma forma justo que os professores sejam tratados com a mesma dignidade? Eu acredito que sim, e muito mais, porque é dos professores que depende o futuro.