"Em mais de 500 anos, o Brasil nunca tinha vivido um momento como este, em que políticos recorrem de sentenças dentro da cadeia". A afirmação é do ex-senador Pedro Simon, em palestra ministrada nesta segunda-feira, dia 16, na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul.
Simon disse que nada tinha mudado nas grandes viradas da história política brasileira em termos de punição a políticos corruptos. Ele criticou a nomeação de sete ministros citados na Operação Lava-Jato para o governo de Michel Temer. Segundo o ex-senador, o juiz Sérgio Moro merece homenagens em praça pública pelas investigações em torno dos casos recentes de desvios de recursos públicos e propinas.
Pedro Simon começou a palestra traçando um levantamento histórico da colonização brasileira, em comparação com a colonização dos Estados Unidos. "Na primeira carta ao Rei de Portugal já havia um pedido de cargo para parente", lembrou.
"O Brasil é ainda o país em que os que estão por cima são os que sempre estiveram por cima", considerou ao criticar a impunidade.
"Nós que somos da geração de 30 nos acostumamos a ver as mudanças políticas, mas nada mudou em termos de combate aos corruptos. Sempre se roubou no Brasil, mas nunca foram presos. Os militares passaram e não mudaram nada. Viemos nós, que íamos para as ruas pedir Diretas Já, anistia aos exilados políticos, liberdade de imprensa e o fim da tortura. Tancredo foi eleito. Mas no contrato dele não previa que morreria. Caiu para o Sarney. Não dá para não reconhecer que ele cumpriu as metas, mas depois se aliou com outros e rachou o governo. Mas passamos e nada mudou. Por fim veio Lula, uma pessoa altamente respeitável. Líder sindical sério, responsável. E aí o que fez? Negociou cargos por apoio. Nomearam dirigentes de empresas no toma lá, dá cá", avaliou.
Pedro Simon disse que a grande conquista brasileira foi a Lei da Ficha Limpa. Segundo ele, o mesmo grupo que atuou no fim das máfias na Itália prestou auxílio a um grupo de advogados, delegados e juízes brasileiros, que durante sete ou oito anos se propuseram a estudar formas para punir políticos.
"Antigamente o político não contratava advogado para absolvê-lo. Mas contratavam bons advogados para empurrar com a barriga. Os recursos duravam anos. Políticos condenados, como o dr. Maluf, por exemplo, nunca ficaram um dia na cadeia. Hoje é diferente. O cara recorre, mas na cadeia. Não interessa mais enrolar o processo. Não tem mais julgamento só no Foro da cidade", considera.
Sobre a indicação dos ministros de Michel Temer (PMDB), Pedro Simon foi enfático. "Não concordo. Não deveria. Desnecessário. O governo usou o mesmo argumento que a Dilma usou. Era melhor não botar. Não foi um bom momento botar". Mesmo assim, ele pediu que as pessoas confiem no novo governo.
"O presidente colocou o nome dele com a garantia de que a Lava-Jato é orientação do governo dele. Se acontecer alguma coisa com essas pessoas, o presidente deverá demití-los imediatamente. O que a Dilma não fez. Ela tentou fazer. Fizemos um movimento de 12 senadores e fomos à Dilma pedir para ela continuar. Mas daqui a pouco o PT estava falando mal dela e ela se entregou. Mas se o presidente sucumbir nessa coisa, ele vai pagar a conta. Ele chegou à presidência da República e o nome dele está em jogo. Ele está entendendo que estes seis meses até a votação definitiva é o tudo ou nada. Ou ele se consagra ou é capaz até da Dilma voltar", finalizou.
Ouça a entrevista coletiva de Pedro Simon, em Caxias