Memória LEOUVE

Para professor, aumento da violência decorre de crise econômica no narcotráfico

Para professor, aumento da violência decorre de crise econômica no narcotráfico

Com a morte de Ademir Gonçalves Guimarães, 47 anos, na manhã desta terça-feira, dia 1º de novembro, Caxias do Sul chegou ao número de 126 mortes violentas em 2016. O mês de outubro, com 25 mortes, finalizou como o mês mais violento do ano até o momento.

 

Para o Cientista Social e professor da Universidade Feevale, Charles Kieling, o aumento da violência tem uma explicação econômica. O especialista, que dá aula nos cursos de Segurança Pública e Gestão Pública, defende que a crise econômica enfrentada pelo país chegou ao tráfico de drogas. “Assim como nós temos o processo de desemprego, de pessoas que não tem capital para comprar produtos básicos, também temos essa situação no narcotráfico. E o que os traficantes fazem para evitar que seu negócio sofra de forma mais contundente a perda de capital é justamente atacar outros pontos de drogas, outros bairros”, explica o pesquisador.

 

Conforme Kieling, uma estratégia utilizada pelos criminosos é atacar os principais pontos de venda de drogas de outros locais da cidade. “O que acontece em Caxias do Sul é que grupos estão atacando, provocando o terror em outros bairros, que também comercializam drogas. Na medida em que aquele bairro está sendo conflagrado, que a polícia está comparecendo e se tornando corpo presente, os consumidores evitam aqueles locais, causando prejuízos na questão da venda”, defende o professor.

 

O pesquisador e professor da Feevale ainda alerta para o aumento da cultura de violência, em que as mortes ocorrem, cada vez mais, por motivos banais. “Há um aumento de forma exponencial de uma cultura de violência e de criminalidade em diversas comunidades. Caxias do Sul já tem isso muito forte. Também há um aumento na letalidade e isso permite, em certa medida, que pessoas cometam crimes contra a vida sem ter nenhuma preocupação com o futuro. O raciocínio é o seguinte: vou matar o fulano sem nenhuma preocupação porque isso já faz parte da cultura do ambiente”, alerta Kieling.

 

AUSÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS

 

A principal causa apontada pelo professor para essa contaminação criminosa pela qual passam as principais cidades gaúchas é a ausência de políticas públicas eficientes. 

 

Para Kieling, as propostas apresentadas pelo governo na última década não dialogam com a realidade e falham na tentativa de conter a violência. “As políticas públicas com esse distanciamento acabaram construindo um cenário de deboche em relação à sociedade em geral. Elas apresentam um cenário de vitória, propõe um cenário de vitória, de ajuste, de melhora, mas que isso não vem se evidenciando pela distância das realidades de drogadição, de criminalidade, de violência, das cidades e do estado do Rio Grande do Sul em geral”, aponta.

 

O professor também questiona a capacidade dos agentes políticos responsáveis, como os secretários de segurança, em lidar com os problemas de violência. “O conhecimento técnico está muito aquém do entendimento de violência e de criminalidade. E eles [agentes políticos] não vão buscar as universidades, buscar os grupos que fazem estudos na área para desenvolver algo que possa trazer uma solução efetiva para esse aumento da criminalidade”, reclama Kieling.

 

MAIS VIOLÊNCIA

 

As medidas adotadas pelo atual governo do Rio Grande do Sul, com a esperança de uma retomada do crescimento econômico em um futuro próximo, devem seguir interferindo na questão segurança pública no Estado. Para Kieling, toda essa operação em que há parcelamento de salários, redução nos investimentos em educação, saúde e outras áreas básicas para a sobrevivência, devem refletir em um número ainda maior de ataques violentos a instituições financeiras e pessoas. “Não há uma perspectiva de redução da violência e da criminalidade pelo fato de que nós temos agora uma espécie de GAP para retomar o crescimento econômico. Mas até as pessoas retornarem ao mercado de trabalho isso demora um pouco. Nós vamos continuar vendo um aumento nos ataques a bancos, processo de execução, pessoas inocentes sendo mortas”, opina o professor.

 

Segundo Kieling, a solução paliativa utilizada geralmente apontadas como solução também não devem surtir o efeito esperado. “As políticas públicas, como colocar mais policial na rua, não vão solucionar a questão da violência. A proposta seria fazer um trabalho com as redes de ensino, com as redes sociais, vinculadas aos órgãos de segurança pública para mudar a questão cultural”, explica.