Memória LEOUVE

Os vereadores na contramão

Os vereadores na contramão

Se a democracia só existe com a participação popular, a gente pode dizer sem medo de errar então que a democracia ficou mais pobre em Bento Gonçalves com a decisão dos vereadores de acabar com a segunda sessão legislativa na Câmara Municipal.

 

Ora, se queremos de fato fortalecer a democracia, é preciso dizer que ela começa nas câmaras municipais, porque é ali que está o problema do cidadão e da cidadã; é ali que se discutem os problemas do esgoto, da saúde local, da luz e dos transportes, por exemplo, e é também ali que começam as pressões sobre o vereador e o prefeito da cidade.

 

Por isso, a justificativa de que o fim da segunda sessão promove uma economia de R$ 80 mil por ano, que fez com que 12 dos 17 vereadores eleitos em Bento Gonçalves para serem a voz do povo abdicaram um pouco dessa função, não se sustenta. Outra justificativa deles, mais absurda ainda, é dizer que não tem trabalho que justifique a realização de duas sessões.

 

Ora, se quisessem mesmo economizar, há outras maneiras de não gastar o dinheiro do contribuinte, revisando apoios a entidades, verbas de publicidade ou mesmo reduzindo o número de cargos em comissão aboletados nos nobres gabinetes dos excelentíssimos senhores vereadores.

 

Além disso, é claro que não vou dizer aqui que o trabalho do vereador só existe na sessão da câmara, longe disso, mas é no parlamento que é possível debater os rumos da cidade e, porque não, pressionar o executivo por mudanças.

 

E talvez seja exatamente aí que a gente encontre a verdadeira intenção em acabar com a segunda sessão na câmara de bento: eliminar um espaço democrático de pressão e de crítica a um governo reeleito que, em 75 dias, apenas transfere pra população o custo de uma crise de gestão que se arrasta desde o mandato anterior.

 

Pois me parece evidente que esses 12 vereadores, todos atrelados ao governo, fizeram sim o serviço sujo encomendado por um governo que não consegue sair da crise, mas, o que é pior, não pretende debater alternativas com a sociedade.

 

A julgar por essa decisão, estamos diante de um Legislativo cada vez mais fraco, e que se enfraquece ainda mais diante de um governo que impõe e não debate, um legislativo submisso, com vereadores governistas ao extremo e uma oposição cada vez mais sem espaço.

 

No meio disso, é a população que perde ainda mais espaço e que, cada vez mais, não tem quem a defenda das deficiências na prestação dos serviços públicos.

 

 

 

Se é preciso cobrar que o legislativo crie novos parâmetros de ação e que adote uma postura mais proativa para fortalecer a democracia e assumir, de fato e de direito, o papel que a sociedade espera deles, em Bento Gonçalves, os vereadores, definitivamente, estão na contramão.