
No início de março, eu disse aqui mesmo nesse espaço que a greve dos médicos em Caxias do Sul era inaceitável. Mais que isso, eu disse aqui mesmo que fazer greve é absolutamente legítimo, mas deve ser o último recurso, e não um instrumento de chantagem que cobra o maior preço da população que mais precisa.
Exatamente o que estavam fazendo os médicos concursados da prefeitura de Caxias, aqueles que atendem a população mais carente pelo SUS.
Pois depois daquele episódio, hoje estamos vivendo a terceira paralisação deles em menos de dois meses. O pior é que, ao contrário das outras paralisações do ano, a de agora não tem prazo para terminar. Ontem, mais de mil consultas deixaram de ser realizadas. Hoje, com certeza, o prejuízo à população vai aumentar. Até quando?
A verdade é que o impasse entre a prefeitura e os médicos, que começou com a exigência que todos os profissionais passassem a cumprir a carga horária, seguiu com uma discussão sobre aumento de salários e agora chega ao cúmulo com a inconformidade de uma proposta de avaliação popular, impõe prejuízos apenas pra população, que já sofre com problemas que vão desde a demora nas consultas até a falta de remédios, por exemplo.
E que agora sofre simplesmente porque os médicos se recusam a atender e renunciam à nobre missão que o saber científico exige deles.
Porque já não importa se os médicos ganham mal, se as condições de trabalho não são as melhores ou se a forma de avaliação não é a mais adequada.
É preciso encontrar uma outra forma de negociar o que acham justo, porque cruzar os braços como se fossem carteiro que fazem greve e veem acumular as correspondências é inadmissível.
Porque uma greve de motoristas de ônibus prejudica a mobilidade da população porque o transporte coletivo deixa de circular, uma greve dos professores deixa estudantes sem aula e uma greve dos lixeiros, por exemplo, deixa o lixo acumular porque não é recolhido.
Mas uma greve dos médicos é uma imoralidade porque o que está em jogo é a saúde da população, e isso não pode ficar à mercê de uma greve que tira a dignidade da profissão e desrespeita os pacientes e toda a sociedade.