Memória LEOUVE

Onde a quadrilha nunca dança

Onde a quadrilha nunca dança

A semana nem chegou ao fim e Brasília segue cheia de assunto. Primeiro foi a perícia técnica do Senado que foi bombardeada pelos próprios senadores porque disse que Dilma não pedalou. Depois, foi o STF que mandou soltar o ex-ministro Paulo Bernardo, preso por suspeita de desviar dinheiro dos aposentados no caso dos empréstimos consignados.

 

Mas o que mais chamou a atenção foi que, depois da saia justa de ser flagrado na sala de estar do Jaburu em um papo animado e nada republicano com Eduardo Cunha, o temerário presidente em exercício Michel Temer escalou o líder do governo interino no Congresso, aquele mesmo que está sendo investigado por corrupção e suspeita de ser mandante de assassinato, dizer que o encontro não teve nada de mais.

 

E eu confesso que foi aí que a pulga começou a coçar bem atrás da minha orelha.

 

Mas então porque esse encontro não estava na agenda oficial?

 

Ah, porque foi no domingo, e, no domingo, até Deus não segue a agenda.

 

Mas então porque esse encontro clandestino foi numa furtiva noite de domingo?

 

Ah, porque domingo é dia de descontração, e eles devem ter combinado de assistir juntos a final da Copa América Centenário e torcer para o juiz, que afinal era o único brasileiro por ali, não ser tão ofendido.

 

Mas então porque receber um réu no Palácio do Jaburu, residência oficial do temerário interino?

 

Ora, porque não tem lugar mais perfeito para um bate-papo entre amigos e para comer uma pizza que a própria casa, não é mesmo?

 

Mas então porque o Cunha mentiu no dia seguinte e negou o encontro?

 

Ah, porque mentir faz parte do jogo do Cunha, ora bolas. Afinal, ele já mentiu no Congresso, já mentiu na comissão de ética, mentiu para polícia federal, mentiu pro STF…

 

Mas então porque discutir o quadro político com uma figura como essa, que está atolada até o pescoço em escândalos e denúncias?

 

Ah, porque mesmo que o Cunha tenha a polícia no calcanhar e não conte mais com o apoio até de seus mais perigosos aliados, ele é o único que sabe onde tem aquela festa junina onde ninguém dança a quadrilha, ou melhor, onde a quadrilha nunca dança.

 

Tudo muito republicano, sem importância alguma.

 

Ou você acha que tem pelo em ovo só porque o Cunha prometeu derrubar metade do Congresso se ele cair?

 

Quer saber, chega mais perto que eu vou falar baixinho para que ninguém nos ouça: a verdade é que foi um encontro de aliados, de quem tem interesses comuns, de quem é refém do mesmo algoz, de quem quer proteger e defender o indefensável, de quem precisa acertar a queda de um para garantir a permanência do outro.

 

Simples assim: porque parece óbvio que um presidente legítimo não deve receber um cara que está sendo processado por corrupção.

 

Mas Temer recebe Cunha.

 

Sabe por quê?

 

 

Porque Cunha e Temer são as duas faces do mesmo dinheiro sujo.