Memória LEOUVE

O vírus da imprevidência

O vírus da imprevidência

A gente ainda nem chegou no inverno e a gripe a já matou mais de 400 pessoas em todo o país, num surto que começa a assustar a população sete anos depois que a primeira epidemia da doença fez milhares de vítimas Brasil afora.

 

Dessa vez, a doença pegou todo mundo desprevenido, e a simples antecipação da vacinação não parece dar conta da velocidade das novas infecções.

 

Só aqui no Rio Grande do Sul, a contabilidade fatal já enumera quase 50 vítimas. Na Serra, já são seis os mortos em consequência dessa doença.

 

O pior é que as estatísticas não são um retrato fiel do que está acontecendo nos corredores dos hospitais, porque a notificação só é obrigatória nos casos graves. Por isso, o que não está sendo dito pra população é que nos últimos três meses, milhares de brasileiros devem ter sido infectados pelo vírus.

 

Estamos vendo o início de uma epidemia fora de época e ainda não sabemos a razão disso. E é nesses momentos em que a natureza bota de cabeça pra baixo o planejamento, é que a capacidade de reação dos governos é colocada à prova. E mais uma vez, ela parece limitada.

 

A Secretaria Estadual de Saúde segue descartando a possibilidade de uma nova epidemia de Gripe A no Rio Grande do Sul parecida com a de 2009, que matou quase 300 pessoas no estado, e o Ministério da Saúde também garante que a situação está dentro da normalidade.

 

O problema é que só os idosos; as crianças entre 6 meses e 4 anos; as grávidas e as mulheres no pós-parto; os doentes crônicos e os profissionais de saúde podem receber a vacina no SUS.

 

Quem pode, busca o setor privado e paga até R$ 300 para se imunizar. Mas, por ironia do destino, as clínicas particulares também não estavam preparadas para atender o aumento absurdo da demanda, e muita gente está na fila de espera.

 

Enquanto isso, quem garante que o cidadão não entrará em contato com o vírus? E quem não está nos grupos de risco e não tem condições de pagar pela vacina, como fica? O estado não se responsabiliza por elas?

 

O pior é que o problema parece ser ainda maior porque a vacina adotada por aqui é a do ano passado, que demora mais ou menos um mês pra produzir imunidade. Pra piorar esse quadro, quem receber a dose do ano passado precisa tomar também a versão deste ano, se é que ela vai chegar.

 

Enquanto isso, é provável que a epidemia continue a crescer e a expor as limitações da assistência à saúde.

 

Em uma Nação que já vive uma guerra contra um mosquito, que pena com a corrupção e com uma disputa política sem igual na nossa história, agora tem mais um problema para se preocupar.

 

Agora, eu pergunto: existe uma estratégia das nossas prefeituras para barrar o H1N1? Na maioria dos casos, a resposta é um sonoro e constrangedor silêncio. A verdade é que, até agora, pouco ou nada foi feito.