Memória LEOUVE

O vice-zumbi e o prefeito condenado

O vice-zumbi e o prefeito condenado

Exatos 15 dias separam a renúncia anunciada do arrependimento declarado do vice-prefeito de Caxias do Sul, Ricardo Fabris de Abreu. Exatos 15 dias separam a reclamação do discurso do abandono à valorização do cargo na hora de voltar atrás.

 

A verdade é que a renúncia com hora marcada sempre pareceu um pedido de socorro ou uma ameaça velada, mas nunca uma intenção política a ser levada a sério.

 

Afinal, o que teria mudado em parcas duas semanas pra fazer o vice deixar o menosprezo às tarefas para as quais foi eleito e se alinhar ao orgulho do cargo e respeito pelos votos que, afinal de contas, também recebeu, ainda que indiretamente?

 

Se a pantomima de Fabris serviu pra denunciar o modo de governar centralizador do prefeito Daniel Guerra ou se prestou pra uma articulação entre o vice e a oposição, os resultados disso ainda não podem ser calculados.

 

Por isso, não dá pra dizer como será a sobrevida de Fabris no Executivo, se há alguma esperança de reconciliação ou se ele será sempre a sombra ameaçadora à espreita da oportunidade.

 

O fato é que, por iniciativa exclusiva dele mesmo, Fabris inaugura uma nova versão da função do vice-prefeito: a não-função.

 

Porque, se a lei determina que o vice apenas seja o eventual substituto do prefeito, e que ele só terá outra função se o prefeito o convocar, então Fabris será menos que decorativo: a partir de agora, ele será o não-vice, um boneco inflável ocupando um cargo executivo que não executa nada.

 

A verdade é que Fabris decretou a si próprio a maldição de ser um vice-zumbi, fadado a repetir pelos corredores do Paço Municipal a caminhada arrastada dos mortos políticos.

 

Um vice-zumbi que condenou o prefeito a não se ausentar um dia sequer na eternidade de seu mandato.