Memória LEOUVE

O senado não surpreende ao surpreender

O senado não surpreende ao surpreender

 

Todos sabíamos que o destino da presidente Dilma Rousseff estava traçado. Ela seria impedida de continuar exercendo a presidência e como previa o artigo 52 da Constituição, ficaria por oito anos com os direitos políticos cassados.

 

Efetivamente o placar de 61 a 20 era o que se poderia imaginar. Uma larga vantagem de 3 x 1. Mas houve reviravolta e a votação foi desdobrada. Perdeu ela o mandato e não os direitos. Não daria para se discordar se alguém dissesse que se trata de uma excrescência, um casuísmo que se explica porquanto estamos falando de política. Já se sabia que o julgamento de Dilma era político e não técnico. Sabia-se que juristas emprestaram tese frágil para que os partidos de oposição se incumbissem do trabalho sujo de se livrar do cadáver.

 

Dilma não era a inimiga a ser batida, mas sim o PT e seu governo. Ao pouparem os seus direitos políticos, pode até parecer que parte dos senadores admitem peso na consciência e punem a presidente apenas parcialmente. Até coisas pueris como a renda da ex-presidente que se aposentará com cinco mil reais mensais foram aludidas. Interessante que nestes meandros nunca se fala deste tipo de preocupação porque normalmente os políticos se ajeitam bem financeiramente antes de pendurarem as chuteiras.

 

Mas calma lá. Neste âmbito não há espaço para condescendência, então esta tese perde força e aí vem a dúvida: o que esperam os senhores senadores com esta punição aplicada pela metade. Sem mandato, mas com direitos políticos? Parece claro que o presidente do Senado Renan Calheiros ao abrir voto em favor da manutenção dos direitos estava mais preocupado em ser seguido abrindo um precedente que futuramente poderá servir-lhe e servir aos seus companheiros/comparsas. O primeiro, lógico, é Eduardo Cunha.

 

 

De fato ao nos surpreender com sua decisão, o senado não chega a surpreender, porque neste âmbito sempre há um coelho a ser tirado da cartola. Se este coelho vai ser cozido na caçarola ou posto crú à mesa ninguém sabe. Mas a sociedade brasileira é quem vai degluti-lo para gáudio da classe política.