Memória LEOUVE

O mito como réu

O mito como réu

Foi só o Supremo Tribunal Federal (STF) indiciar o mito Bolsonaro por apologia e incitação ao estupro o que bastou para que a massa de neoapoiadores do Messias — calma, que esse é só o nome do cara, Jair Messias Bolsonaro –, incendiasse as redes sociais anunciando um golpe para tirar o deputado da corrida presidencial.

 

É verdade que a casa caiu para ele, mas também é verdade que, mesmo que no calor dessa hora ele até pontue nas pesquisas, a ideia de que ele tivesse alguma chance de vencer uma disputa presidencial sempre foi distante e agora virou geleia.

 

Mas é preciso dizer que não há um golpe, e sim uma tentativa de fazer justiça.

 

Numa sociedade tão carente de bons exemplos a seguir, na política e na vida, em uma época perigosa de análises superficiais e adesão fácil a salvadores da pátria que atiram pedras contra as minorias, o STF mostra que tudo precisa ter um limite, e esse limite é o bom senso.

 

É evidente que a deputada Maria do Rosário, o pivô do caso, foi mal-educada quando interrompeu uma entrevista que Bolsonaro concedia e cometeu um crime quando chamou o mito de estuprador. É calúnia, injúria, difamação.

 

Tá lá, devidamente tipificado no Código Penal, e cabe ao agredido buscar reparação judicial do agressor. Ponto.

 

Mas também é evidente que, ao dizer que não estupraria a deputada porque ela não merece, e que ela não merece porque é muito feia, o bate-boca das lavadeiras congressuais tomou outra proporção.

 

A falta de decoro moral expôs a ignorância e a arrogância do homem que se julga acima do bem e do mal.

 

Bolsonaro pode ser tudo, mas não é estuprador até que se prove o contrário.

 

Mas a estupidez das próprias palavras não dá margem a outra interpretação a não ser que ele justifica o estupro de uma mulher bonita.

 

E, vindo de quem veio, de alguém com pretensão de ser presidente e, portanto, não pode ser imprudente e inconsequente com as palavras, é inaceitável.

 

Vindo de quem como ele se autoproclama o arauto da moralidade nacional, o resgate da ordem e da decência, é criminoso.

 

Se condenado, Bolsonaro deixa a disputa antes de ter entrado nela. A justiça se encarregará de escrever as próximas palavras, mas o certo é que o mito hoje é réu, e pode virar condenado.

 

 

E pode ser melhor assim. Se não pela Justiça, que seja pelo bom senso.