Memória LEOUVE

O funk da facção

O funk da facção

Veículos incendiados, bombas e tiros, muitas mortes, assaltos em profusão, pequenos arrastões, tiroteios em comunidades pobres. O cenário de guerra é de um lugar entregue à barbárie. Em pânico, parte da população deixa de ir ao trabalho, de frequentar bares, de caminhar livremente pelas ruas. E comunidades inteiras ficam reféns dos “soldados” do tráfico.

 

Isso acontece todo dia lá no Rio de janeiro, mas essa onda de violência que ocorre em terras cariocas bem poderia descrever parte do que já acontece em Porto Alegre e começa a chegar nas principais cidades do interior do estado.

 

E essa violência cada vez mais perto do cidadão comum chega na ampliação da atuação das chamadas facções que disputam o comando dos pontos de venda de drogas nas cidades, amplamente conhecidos e consagrados, mas nunca definitivamente desmantelados pela polícia, que prende um aviãozinho do tráfico hoje e amanhã precisa prender outro que já tomou o lugar, enquanto os barões da droga continuam intocáveis.

 

O problema é que essa realidade parece estar hoje em todo lugar, e não adianta tapar o sol com a peneira e culpar a mídia por trazer a notícia pra dentro da sua casa. Porque a notícia existe e está aí, nas mortes violentas, nos assassinatos, nos roubos que aumentam, nas ameaças em rede, no funk da facção que se julga acima da punição.

 

É preciso acordar e reagir. E essa reação passa necessariamente por conhecer, entender e enfrentar a realidade.

 

A verdade é que a gente está vivendo uma reconfiguração geopolítica do crime, em parte provocada pela repressão às organizações criminosas nas grandes cidades, em outra parte estimulada inacreditavelmente pelo Estado quando deixa de investir na segurança, quando não tem dinheiro para equipar e qualificar viaturas e armamentos, quando deixa de formar novos policiais e quando transfere presos perigosos para presídios no interior do estado.

 

E não adianta dizer que isso é um problema entre traficantes ou que a onda de violência não afeta a todos ou ainda que ninguém tem culpa. Não existe Batman pra chamar.

 

O importante nessa hora é entender que não é mais possível que a população pague o alto preço da insegurança porque o Estado não cumpre efetivamente com seu dever de proteger o cidadão de bem.

 

E compreender que. entre balas e discursos, quem paga a conta é o cidadão comum, que segue tentando se proteger do jeito que dá e entender o que está acontecendo pra poder continuar seguindo em frente.