Memória LEOUVE

O erro está no apego

O erro está no apego

A partir da entrevista concedida pelo Ministério Público em que o presidente da Câmara é denunciado por supostamente ter fraudado o concurso, na semana passada, Valdecir Rubbo se viu levado a pedir licença do cargo de presidente do Legislativo. Dificilmente encontrará forças para buscar uma reeleição. Coisa que já cogitava desde o ano passado. Ele sonhava com uma vaga de vice. A pretensão está sepultada. E após ser achincalhado em redes sociais e até na mídia impressa, estará nesta segunda-feira se manifestando da tribuna da Câmara. Aos mais próximos tem dito que sai do holofote, mas continua na política.

 

Devo dizer que é bem mais difícil criticar um amigo do que alguém distante, como Calheiros ou Dilma. Rubbo sempre foi um democrata e costumava aceitar e responder com educação às críticas da imprensa.  Supondo-se que, de fato, errou no episódio do Concurso, já começou a pagar a conta.

 

Admitindo-se ainda que seja culpado, como parece ser, é preciso constatar que seu erro maior ocorreu antes deste episódio. Foi quando se apegou ao cargo de presidente do Legislativo, ou então foi levado pelos colegas a aceitar mais um mandato porque seria o único a manter o clima de harmonia na casa (Clemente e Pessutto estavam à frente e foram preteridos). Está aí uma lição para quem o sucede: não se deve ficar mais do que um mandato na presidência. A eleição para dirigir a mesa exige troca de favores, compromissos aqui e acolá. Equilibrar-se nesta corda bamba traz sacrifícios. Mas também o alto do poder traz a sensação de onipotência que mais cedo ou mais tarde se verá, não era bem assim. O poder de ajudar amigos, estender favores e preencher cargos tem limites, os pedidos de favor não.

 

Hoje parece que o regimento já não prevê esta possibilidade e por iniciativa do próprio Rubbo, que deve ter visto o perigo de permanecer tanto tempo no cargo. Mas sabe-se que isto muda de tempos em tempos dependendo de quem se queira favorecer ou a quem se queira barrar.

 

A boa sensação do poder, de ser citado em protocolos, de estar acima dos seus pares em lugar de destaque inebria. Mas, o cargo não é indevassável, pelo contrário. Há muito tempo os cargos de ordenador de despesas no setor público nos municípios se tornaram alvo preferencial de tribunais de contas ou do Ministério Público. Então, o que antes era possível e até corriqueiro, hoje já se tornou um risco real, para o bem da sociedade.

 

 Agora, sejamos realistas, muitos outros concursos já exalavam algum cheiro de cartas velhas e marcadas. E não tenham fé. Em algum lugar, possivelmente bem perto daqui, mais algum concurso está, esteve ou estará sendo fraudado. Sei, isto não redime ninguém que errou. Mas é assim mesmo o pecador não se vê pecando nem se arrepende até ser pego em delito. Por isso é preciso repetir: agarrar-se ao cargo leva fatalmente a círculos viciosos.

 

Então, se é fácil apontar erros cometidos, que se aprenda deste triste episódio para prevenir tentações futuras