Desde quando eu ainda era um guri nunca consegui entender esta desordem que é o mundo em que vivemos. Sempre me intrigou que não pudéssemos colocar uma mínima organização na vida das pessoas e das entidades ou empresas, da sociedade enfim.
Claro, há uma ordem institucional, regramentos, poderes constituintes, independentes e harmônicos(?). Vivemos lado a lado com o que está arrumado e o que não se organiza, justo e injusto, fome e abundância. Nas mesmas ruas circulam chevetes com pneus carecas e SUVS que valem mais do que a maioria das da casas dos brasileiros.
Há gente que rouba muito e posa de benfeitor na sua comunidade; tem outros que disputam espaço no presídio pra dormir no chão frio porque entraram na roda do tráfico. O salário do serviços gerais é 50 vezes menor do que o do sócio da empresa, mas aí vem a justiça do trabalho e pune pequenas empresas fazendo-as pagar indenizações inexplicáveis com cálculos absurdos para funcionários afastados.
Um médico desabafa. Contribuiu para a previdência durante toda a vida e agora continua trabalhando, mesmo aposentado, para perceber que recebe como provento menos do que o auxílio moradia dos juízes. Onde está a razoabilidade disto?
Ainda sobre o caos, abro o jornal de domingo e vejo que o ex-governador Antônio Britto estará em breve de mudança para os EUA. Será mais um da classe alta compondo a “diáspora brasileira” (também os remediados tentam ganhar a vida lá fora). Busca oferecer uma experiência nova aos filhos, mas não desmente que a situação do Brasil, com crises e falta absoluta de segurança o estimulam.
Aí somos obrigados a pensar que este Britto foi daquelas pessoas que ocuparam o topo da pirâmide social. Teve poder para mudar o país ou um pedaço dele, no caso o Rio Grande para torná-lo melhor. Logo depois aproveitou os contatos e o conhecimento em proveito próprio. Resolveu ser milionário vendendo conhecimento e gestão de crise ao capital privado. Egoísmo ou desilusão com a vida pública? Será que pensou em ficar rico ou viu que no lodo da política não há porto seguro nem destino feliz. Ficamos com raiva e xingamos ou, com inveja, tentamos seguir o senhor Britto? Mas afinal, se ele saiu da vida pública será que nos cabe julgá-lo?
Cada um que escolha a sua opção. Enfim, depois do processo e privatização das estradas gaúchas entendo que Britto escolheu um caminho coerente: foi ser lobista e engordar ainda mais quem tinha fome de dinheiro.