Memória LEOUVE

O anão, o mediador, a falta de vergonha e nós, os botocudos

O anão, o mediador, a falta de vergonha e nós, os botocudos

Eu fico cada vez mais estupefato com a distância da realidade brasileira com o que se pensa em lá em Brasília. Nesta semana, alguns episódios são sintomáticos, e demonstram claramente como o governo e o Congresso Nacional andam totalmente na contramão do que quer a sociedade brasileira, que desde 2013 dá o recado claro de que quer mudanças, que não aguenta mais este estado de coisas permeado de corrução, de interesses, de clientelismo e de fisiologismo na política tupiniquim.

 

Mas em Brasília parece que nada acontece. Em Brasília, permanece tudo igual como era antes no quartel que nada tem a ver com esse Arantes que vos fala.

 

Um desses episódios é a briga de vaidades e de interesses escusos entre o agora ex-ministro Geddel Vieira Lima e o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, onde o ex-anão do orçamento pressionou o pra liberar uma construção irregular onde ele comprou um apartamento por nababescos dois milhões e meio de reais, coisa que aliás ele não comprovou se tem bolso pra isso. Mas esse é outro ponto.

 

Agora se sabe, o próprio presidente Michel Temer admitiu que conversou com o ex-ministro pra tentar botar panos quentes na fervura entre Geddel e Calero. Mas, ora bolas, o Presidente da República deve determinar e fazer valer a legislação, e não mediar conflitos entre ministros de seu governo ou achar brechas pra locupletar esse ou aquele. Ficou pior a emenda do que o soneto.

 

Geddel só caiu depois de ter sido prestigiado por Temer e aclamado por toda a base aliada do governo, numa demonstração clara de que, se alguém tem corruptos de estimação, eles hoje estão no poder. Esse não é o primeiro episódio em que a gente percebe a demora de Temer em punir quem faz coisa errada no seu governo. O que Temer quer mesmo é distribuir panos quentes pra abafar os erros dos amigos.

 

Aliás, os mesmos panos quentes que o Congresso Nacional quer agora jogar nas 10 medidas contra a corrupção patrocinadas pelo MPF com a chancela de mais de dois milhões de assinaturas de brasileiros, uma demonstração clara de que nós, brasileiros da rua, não aguentamos mais esse estado de coisas.

 

Mesmo assim, o Congresso quer encontrar brechas pra, por exemplo, anistiar o crime de caixa dois cometido até ontem. “Fazemos uma lei rígida que vai punir com rigor esse crime terrível, mas vamos apagar o passado, passar a borracha, vamos deixar assim, me deixa quieto”, parecem dizer os nobres corruptos aboletados nas cadeiras parlamentares dessa república de bananas.

 

Evidentemente, não há pai dessa criança, mas o parto, que quase foi feito às pressas esta semana, pode parir esse bastardo rebento a qualquer momento.

 

 

O certo é que ainda estamos vivendo momentos muito perigosos nesta nação de botocudos. E não podemos mais calar diante dessa total disparidade entre a realidade nacional e a vontade deste Congresso Nacional que, definitivamente, não nos representa.