Memória LEOUVE

Nos bastidores de uma escola ocupada

Nos bastidores de uma escola ocupada

Com exclusividade, a reportagem da Rádio Viva Metropolitana FM 90,7/Grupo RSCOM obteve autorização e ingressou em uma escola ocupada desde o início da greve do magistério. E não se trata de uma escola qualquer, e sim, a maior escola estadual do município de Canoas, a Marechal Rondon, onde normalmente mais de 1,5 mil alunos estudam durante as atividades normais.

 

Ocupada desde a última terça-feira, dia 17, portanto, a uma semana, a organização da ação chamou a atenção da reportagem. Ninguém entra e ninguém sai sem assinar uma espécie de "caderno ponto". Professores, diretoria e alunos, são obrigados a registrarem o comparecimento no prédio. Professores que não aderiram a greve (aproximadamente 45% do corpo docente da escola) tem acesso controlado pelos alunos. Embora a recuperação das aulas seja uma certeza após o final da paralisação, eles comparecem a instituição e cumprem o seu horário de serviço em salas de aula vazias.

 

Os alunos, por sua vez, ao contrário do que talvez a grande maioria imagine, não ficam sem atividade alguma durante a ocupação. Dividem-se nas tarefas de limpeza, cozinha e atividades educacionais durante todo o dia. O Grêmio Estudantil da escola mantém toda a programação exposta em um quadro negro ao lado do acesso ao refeitório do colégio e também publicam as atividades em uma página em uma famosa rede social.

 

Uma biblioteca da ocupação foi criada. Os próprios ocupantes trouxeram publicações que também foram doadas por pessoas da comunidade, que contribuem com alimentos e material de higiene diariamente.

 

Em vez de dormirem até "tarde" durante as manhãs, os estudantes acordam cedo e impõem-se compromissos diários, como por exemplo, a limpeza de um terreno anexo a escola que se encontra "atirado" com acúmulo de lixo.

 

Os estudantes, aliás, organizam-se determinando equipes de limpeza, cozinha e de outras atividades, com a confecção de escalas de trabalho.

 

Palestras sobre vários assuntos pertinentes como feminismo, já foram apresentadas, e oficinas de disciplinas como matemática e português acontecem todos os dias nas dependências do Marechal Rondon. Estes eventos contam com a participação de pelo menos 100 alunos. Shows de bandas e atividades culturais também constam na programação.

 

A diretora da escola, Ana Luiza Cardoso da Cunha, é presença constante na ocupação e acompanha a organização dos alunos quanto as atividades. Ela confirmou o número aproximado de 12 alunos que dormem todas as noites nas salas de aula da instituição. A professora confirmou ainda, que dois pais de alunos e pelo menos, um professor, também permanecem durante à noite acompanhando os estudantes no período noturno. 

 

Não há previsão para o fim da ocupação. Em princípio, o período da manifestação será o mesmo em que durar a greve do magistério.

 

Outra situação abordada pela reportagem foi o consumo de bebidas alcoólicas e drogas dentro da escola durante a ocupação. Segundo a professora Ana Luiza, não há consumo de nenhuma das substâncias nas dependências da instituição.

 

O protesto visa reivindicar o fim do parcelamento dos salários dos professores, melhores condições de trabalho ao corpo docente, repasse da merenda e um posicionamento contra a PL 44/16 que prevê a privatização das escolas estaduais.

 

A diretora faz questão de salientar que não existe clima hostil:

 

"O pessoal acha que é baderna, mas é muito pelo contrário. Eu me surpreendi com a ação dos alunos aqui dentro", afirmou a professora.

 

Uma ocupação organizada e com o apoio de pais e professores. Este foi o cenário que foi constatado nesta visita exclusiva de nossa reportagem a maior escola estadual de Canoas.