Memória LEOUVE

Minha amiga anta

Minha amiga anta

Pois olha, a Anta da Praça Vico Barbieri está lá para quem quiser ver. Pobrezinha. Já foi conhecida como a Anta do Lunelli. Agora que ele já não é prefeito e nem está mais entre nós, ela está lá solitária, nem água a nossa anta de concreto tem pra beber.

 

 

Ela talvez seja o símbolo maior de uma época em que o PT prometia um mundo melhor e mais justo. Em Bento e no Brasil. Mas este tempo ficou para trás, agora o país está livre deste mal, o Brasil está novamente trilhando o bom caminho no melhor estilo família, tradição e propriedade, resta ali naquela praça uma Anta como símbolo de outros tempos. Sim, tem também uma baleia, uma foca e uma tartaruga, mas nenhum deles representa tão bem aquilo do que vamos falar. A Anta é um monumento incômodo a lembrar que algo pode ser diferente Não necessariamente melhor, mas diferente.
Pois estou aqui para declarar que a Anta da Praça Vico é minha amiga. Como vizinho e amigo e vejo que além de algumas poucas crianças com cinco anos ou menos que gostam para posar em fotos com elas, pouca gente se importa. Aliás até as crianças não estão ligando muito. Preferem a alegria do hip-hop uns metros acima ou os malabarismos dos skatistas.

 

Mas eu não. Vou lá e a contemplo e nos conectamos. Diria até que aa Anta da Praça tem muito o que ensinar viu… vá lá, talvez ensinar não seja o caso, mas a questionar. Ele me lembra que os galhos das árvores na praça e seu entorno estão pesadas e ameaçam ruir na cabeça de alguém; que as faixas de segurança estão desbotadas; que não tem o número suficiente de agentes na rua pra tentar regular o trânsito nas horas de pique. Aliás, ela lembra que um candidato a prefeito que prometer túneis e viadutos tem boas chances de e eleger prefeito – viram como não é boba esta anta.

 

A anta da Praça acha que estão faltando consultas médicas, vagas nas creches e que ainda será preciso reduzir secretarias e ajustar as contas do município (ela sabia antes do Tribunal de Contas. E mais, ela concorda que talvez a Linha Palmeiro não fosse o melhor lugar para o presídio. Mas que a esta altura não dá mais pra ficar discutindo e retomando a decisão. No tempo certo ninguém mostrou área melhor.

 

 

Mas que diabos, quem quer saber afinal sobre o que pensa uma anta, quando vivemos numa cidade de tantos eruditos com um milhão de certezas?