Memória LEOUVE

Milagres interinos

Milagres interinos

Eu confesso que leio as notícias nos jornais todas as manhãs, como faço todos os dias, mas não consigo mais entender qual é de verdade o Brasil real.

 

Porque eu leio que o governo interino amplia o déficit público para R$ 170 bilhões, celebra um aumento bilionário em reajustes para o Judiciário, permite a criação de novos cargos de confiança no legislativo e, agora, libera quase R$ 3 bilhões para o caótico Rio de Janeiro e pedala a dívida dos estados em pelo menos seis meses sem ver um tostão entrar nos cofres da União.

 

Aí, de repente, a memória refresca e lembro que a presidente Dilma Rousseff foi afastada porque deixou o país com um rombo de R$ 70 bilhões e quebrou o país com suas pedaladas fiscais.

 

E juro que tento achar a lógica desse milagre que o governo interino fez para salvar o país da bancarrota e em 30 dias pode abrir um pacote de bondades para os seus aliados sem ninguém achar que tudo isso pode agravar a crise nacional.

 

Mas a verdade é que eu fico contente. Afinal, eu quero ver o país voltar ao rumo do desenvolvimento sustentado, equilibrado, gerando emprego e crescimento pras empresas.

 

Bendito milagre, eu penso cá com os meus botões. Só que não.

 

Porque aí eu abro os olhos, e aqui, na minha frente, as empresas seguem pedindo recuperação judicial e os trabalhadores seguem perdendo o emprego e já acho que não sei mais nada.

 

E então eu percebo que o temerário interino vetou um aumento de 9% no Bolsa Família, quer barrar o aumento dos recursos para a educação e pra saúde, vai privatizar empresas estatais e cortar benefícios sociais e direitos trabalhistas e entendo quem vai pagar essa conta.

 

Depois de um longo inverno, parece que a luz se acendeu no horizonte, disse o interino Michel Temer esses dias.

 

 

O meu medo é que essa luz que ele diz ter visto seja a mesma que a ciência alega que o moribundo vê antes da viagem final.