Os médicos que atendem pelo Sistema Único de Saúde em Caxias do Sul entrarão novamente em greve. A definição ocorreu na noite desta segunda-feira, dia 10, em Assembleia realizada no Sindicato dos Médicos. A paralisação, que inicia na próxima segunda-feira, dia 17, desta vez é por tempo indeterminado.
No sábado, os médicos já haviam dado o indicativo de uma nova paralisação durante entrevista coletiva. Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos, Marlonei dos Santos, o principal motivo da paralisação é a ausência de uma resposta do poder público à contraproposta apresentada pelos servidores. “Não houve qualquer resposta por parte do prefeito. Ele quis um documento, aliás, exigiu um documento que não fosse assinado por mim ou que não tivesse o timbre do sindicato. A gente fez isso hoje a tarde com um papel assinado pela comissão, com a mesma proposta e não houve nenhum tipo de resposta e nem qualquer sinalização. Aí decidimos pela paralisação por tempo indeterminado”, explica.
Para o Presidente da Federação Nacional dos Médicos, Jorge Darze, que esteve presente na assembleia e que durante a tarde intermediou uma reunião entre a Secretaria da Saúde e Sindicato dos médicos, o que está acontecendo em Caxias é uma questão nacional, que repercute de maneira similar em todo o país. “O que nós estamos vendo hoje em Caxias é uma situação absurda. É uma situação escandalosa, onde o chefe do executivo ignora a representação da sociedade civil organizada, evitando o diálogo. Ele aposta na obstrução da solução e se aproveita do impasse. Quando ele seleciona quem ele vai receber e quem ele não vai receber, ele está agindo de maneira incompatível com o cargo que exerce”, salienta.
O presidente diz que Guerra está ignorando a categoria médica e tentando jogar nas costas dos médicos a responsabilidade e a incompetência na gestão da saúde pública na cidade. “Ele esconde a verdadeira crise no sistema, pois não divulga as mazelas e o verdadeiro problema no atendimento da população. Temos carência de insumos para a atender a população. Faltam leitos para internação, temos pacientes em cadeira fazendo medicamentos. O sistema está combalido e o prefeito insiste em responsabilizar os médicos. Eu quero deixar claro que a responsabilidade por essa greve é de inteira responsabilidade do prefeito Daniel Guerra”, aponta.
A novela
O impasse entre a prefeitura de Caxias do Sul e os médicos do SUS iniciou em janeiro. Uma circular elaborada pela Secretária da Saúde avisava os servidores que a partir de março eles precisariam bater o cartão ponto.
Até então, os médicos trabalhavam por cota, por meio de um acordo firmado pelas administrações municipais anteriores. Depois de um início sem avanços nas negociações, no final do mês de março os médicos concordaram em cumprir a carga horária, mas cobravam um reajuste salarial do município.
O prefeito Daniel Guerra e o, à época Secretário da Saúde, Darcy Ribeiro Pinto Filho, elaboraram uma proposta e apresentaram a representantes da classe médica. No documento, o poder público apresentava duas possibilidades de incorporação no salário atual dos servidores: por meio de produtividade e também de qualidade.
A questão da produtividade seria analisada pelo número de consultas por mês. Caso a meta máxima de consultas fosse atingida, os médicos, independente da carga horária, poderiam incorporar o valor de R$ 1.049,60 ao salário.
Outra possibilidade de aumento seria pela qualidade. A ideia do prefeito era implantar um mecanismo de avaliação após as consultas. Neste caso, o paciente avaliaria o trabalho do médico como ruim, regular, bom, muito bom e excelente.
Caso a avaliação fosse muito boa ou excelente, os médicos poderiam ter uma bonificação de 25% em relação ao salário. Em assembleia, a categoria questionou o modelo de avaliação, mas aceitou o valor do reajuste.
Diante disso, os médicos enviaram ao prefeito Daniel Guerra um novo documento, no qual propunham trabalhar por hora: cada servidor receberia R$ 79,71 reais a cada sessenta minutos trabalhados, independente da carga horária. Como não houve resposta e a negociação estancou, os médicos decidiram paralisar as atividades novamente.