Memória LEOUVE

Maquiavel e os favores da lei

Maquiavel e os favores da lei

Aos amigos, os favores. Aos inimigos, a lei. Muitos pensam que essa frase é do ex-presidente Getúlio Vargas, mas a máxima foi dita pela primeira vez na Idade Média, lá pelos anos 1500, pelo homem considerado como o inventor da Ciência Política, o filósofo italiano Nicolau Maquiavel. Bem antigo, né? É, pois é, mas cabe direitinho neste setembro do terceiro milênio que lembra os 15 anos de um setembro que mudou o mundo lá em 2001.

 

Eu digo isso porque a realidade nacional e as coisas aqui do estado mostram que a máxima maquiavélica ainda está valendo. E cada vez parece mais atual.

 

Ou, se não, como explicar a obscena aprovação da lei que legaliza a abertura de créditos suplementares sem autorização do Congresso, sancionada pelo agora temerário presidente dois dias depois de ter sido o principal motivo pra derrubar um presidente eleito?

 

Ou como explicar que, aqui nos pagos, o TCE não segue o entendimento de seu superior TCU e não desaprova o mesmo artifício que derrubou Dilma quando foi usado pelo governador Sartori pra pagar o salário atrasado dos servidores?

 

Sera que é só pra mim que parece claro que algo está muito errado quando os pesos e medidas variam conforme a cara, o gosto e o bolso do freguês?

 

Só mesmo Maquiavel pode explicar.

 

Pois o que foi crime de responsabilidade para Dilma não é pra Sartori e agora jamais será pra Temer. Taí.

 

Aos amigos, os favores.

 

Lá na Idade Média, e quem lembra um pouco das aulas de História vai saber que a época é também conhecida como a Idade das Trevas, Maquiavel dizia ao príncipe que lhe pagava o soldo que o poder precisa ser conquistado – e mantido – a todo custo, e que, vejam só, a moral não poderia ser um limitador da prática política. Afinal de contas, ética pra quê?

 

Bingo.

 

Estamos mesmo de volta a Idade Média.

 

Pois uma época em que as leis são alteradas pra culpar uns e inocentar outros não pode mesmo ter outro tempo. Golpe de sorte? Golpe fatal.

 

Aos inimigos, a lei.

 

Mas enquanto os incautos comemoram um novo tempo, como se todos os males deste país tupiniquim tivessem sido sanados com a expulsão do PT da brincadeira, eu aqui sigo indignado com a mesma corrupção, a mesma maracutaia, a mesma vergonha que segue pautando a política nesta nossa Nação dos Botocudos.

 

E sonhando que um novo Iluminismo nos resgate mais uma vez das trevas maquiavélicas de hoje.