Memória LEOUVE

Lá vem o pato

Lá vem o pato

Lá vem o pato, pata aqui, pata acolá, lá vem o pato para ver o que é que há, cantava o poetinha, contado as proezas do pato pateta que tantas fez que acabou na panela.

 

E eu não pude deixar de lembrar da musiquinha quando li na semana passada que aquele grande empresário que deve sozinho quase R$ 7 bilhões pra Receita Federal (isso mesmo, R$ 7 bilhões em impostos sonegados), renunciou ao cargo que ocupava na direção da Fiesp.

 

Daí a lembrança. É que a Fiesp se tornou uma das maiores patrocinadoras do impeachment e principal oráculo do governo interino com aquela campanha que botou o pato amarelo nas ruas pra dizer que o povo não ia pagar o pato da corrupção.

 

Pois o tal megaempresário saiu, mas não pagou o pato, e nem disse se vai pagar a dívida. O tal Laodse de Abreu Duarte é considerado o maior devedor individual do país, e esse dinheiro que ele não pagou aos cofres da União é mais do que devem 18 estados brasileiros que sofrem com a dívida que paralisa investimentos e destrói os serviços públicos.

 

O pato da Fiesp aceitou a demissão do Laodse, mas não fez julgamentos.

 

Perfeitamente compreensível.

 

É que muitas empresas associadas da Fiesp alimentam um rombo com o governo federal que já ultrapassa R$ 1 trilhão.

 

Entendeu? O débito dos maiores devedores brasileiros representa tudo o que foi arrecadado até agora em impostos no país e é cinco vezes maior que o buraco total no orçamento federal previsto para este ano.

 

Lá vem o pato, pata aqui, pata acolá.

 

Com todo esse dinheiro, seria possível cobrir o rombo e fazer o necessário ajuste fiscal sem reduzir os investimentos em infraestrutura e sem cortar direitos trabalhistas e gastos em programas sociais, saúde e educação.

 

Mas por aqui é mais fácil cobrar o pato do povo que paga impostos do que cobrar os sonegadores. O problema é que, no capitalismo tupiniquim, as regras do mercado só valem para os mais fracos.

 

Na cartilha do velho Adam Smith, sonegador perde direitos e as empresas quebram se não pagam suas contas. É a tal mão invisível do mercado. Mas, por aqui, essa mão é bem grande e bem visível.

 

E mesmo quando o governo faz as privatizações necessárias, porque tem serviços que são melhores geridos pela iniciativa privada, os empresários não querem cortar o cordão umbilical. Daí recorrem a financiamentos generosos do BNDES mas, na primeira dificuldade, correm para baixo da asa do governo e dizem que pagam quando puderem. Mas nem sempre pagam.

 

Lá vem o pato, pata aqui, pata acolá.

 

 

E você? Tem ideia de quem vai pagar o pato?