Enquanto a Lava-jato encurralava petistas, fechava o cerco em Lula e prendia gente de baixa cepa envolvida nos escândalos do Petrolão a custas de vazamentos de delações aqui e ali, ela era um bálsamo que ia passar o país a limpo.
Mas parece que foi só a operação ampliar o leque da investigação e começar a realmente meter a mão na cumbuca toda da vergonhosa política nacional pra encontrar pelo caminho inimigos de alto calibre.
“É preciso estancar a sangria”, disse com todas as letras um dos homens fortes do governo Temer, lançando a ideia de que a Lava-jato precisava parar por aqui e anistiar a corrupção dos partidões.
Agora foi a vez do nobre ministro do STF Gilmar Mendes, que também é o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, soltar o verbo pra reclamar de abusos que teriam cometido contra outro ministro do STF e, pra muitos, fazendo o jogo do PT, vejam só.
O grande togado, que não tem papas na língua, disse que o cemitério está cheio desses heróis, numa referência direta aos procuradores da República que trabalham na força tarefa, indignado com o vazamento da delação de Leo Pinheiro, o ex-todo poderoso da poderosa empreiteira OAS.
Nos meus tempos de guri, isso tinha só um nome: ameaça.
E quando um ministro do STF ameaça procuradores do Ministério Público Federal, há algo de muito podre no ar.
O falastrão Gilmar mendes avisou que é preciso colocar freio na atuação da força tarefa pra barrar o estrago provocado pela Lava-jato.
É evidente que existem abusos na Lava-jato, e isso não é de hoje. É certo também que é preciso barrar os exageros, evitar os acertos de contas pessoais e não se pode aceitar que vale tudo em nome da lei.
Há alguns anos, eu lembro que Gilmar Mendes disse que “a justiça não é cemitério de processos contra políticos”, falando dos milhares de processos por corrupção que não são julgados.
Ao contrário, muitos desses processados continuam governadores, se elegendo prefeitos, parlamentares e ocupam altos cargos públicos em todos os poderes da República, especialmente no Congresso Nacional.
Ora, senhor Gilmar: é preciso sempre ter em mente que não se combate o crime cometendo outro, pois hoje e sempre a autoridade se distingue do criminoso porque não comete crime, senão também é criminoso. Pelo visto, o que já foi parar mesmo no cemitério, há muito tempo, é a ética. Simples assim.