Não é de hoje que as nossas estradas lembram um paciente terminal de uma doença degenerativa: quando cura uma infecção aqui, aparece outra doença oportunista ali mais adiante.
De certa forma, as eternas operações tapa-buracos que mais tapam o sol com uma peneira que efetivamente resolvem o problema são como um remédio placebo dado em tratamento a esse paciente, é como dar um paracetamol pra alguém que está morrendo de câncer.
O pior é que nem os tão esperados recapeamentos resolvem definitivamente o problema e trazem a cura para o mal das estradas. Isso porque o asfalto novo, que devia durar pelo menos uma década, não resiste a meia dúzia de dias chuvosos.
E enquanto as autoridades pedem que a gente comemore tapa-buracos e recapeamentos meia boca, a gente fica perguntando porque as nossas estradas não tem qualidade.
A verdade é que o buraco é um atestado de negligência, um descaso com a sociedade, um desrespeito com o contribuinte.
Porque o que a gente tem são serviços tapa-buracos e governos tapa-buracos. O que a gente tem são projetos que já vêm do governo com restrições de verba, e o pouco que vem se perde no descaminho do descuido e do desperdício.
Por aqui, o que vale não é a técnica, mas o bolso.
O certo é que está mais que na hora da gente exigir que a recuperação das estradas seja feita com projetos técnicos realistas, que sejam integralmente seguidos pelas construtoras e fiscalizados com honestidade pelo governo.
Porque nós pagamos impostos, e, convenhamos, com o imposto que a gente paga, dá para fazer coisa muito melhor.
Porque o nosso solo é extremamente propício pra boas estradas. E porque temos asfalto da melhor qualidade produzido aqui.
E porque, finamente, não nos falta capacidade de fazer.
O que nos falta, na verdade, é vergonha na cara.