Memória LEOUVE

Escola com mais ideias

Escola com mais ideias

 

O Brasil tem a esquerda e a direita que o fascismo pediria a deus – se acreditasse nele. A direita desvairada tem uma preocupação válida: o esquerdismo nas escolas. O método de combate, porém, é tão abestalhado quanto os autores do projeto Escola Sem Partido.

 

Para combater uma ideologia, deve-se oferecer mais ideias aos alunos, não menos. Ao lado de Marx, pode-se estudar o pensamento de Adam Smith, Thomas Hobbes, Stuart Mill, Jeremy Bentham, Edmund Burke, e tantos outros. Colocando o pensamento de esquerda em perspectiva, contrastando-o com leituras de autores liberais, conservadores, anarquistas, toda pretensão de verdade na retórica esquerdista se esvairá, e o cientificismo de Marx não passará de uma pretensão filosófica. Estudando o pensamento político com a maior abrangência possível, o aluno entenderá que política não é ciência.

 

Boas aulas de história seriam úteis para enfraquecer o marxismo que incomoda os reacionários. Os alunos descobririam que a revolução do proletariado, na prática, equivale a mais de cem milhões de mortos em menos de um século. Ao virem a foice e o martelo durante a propaganda eleitoral de partidos como PCdoB, PCO, PSOL, PSTU, os alunos poderão se perguntar: a democracia é mesmo tão sólida a ponto de permitir, e financiar, a difusão de um símbolo genocida e a defesa de uma ditadura? Uma boa aula de história seria pedir demais: os professores estão ocupados em formar consciências críticas. E nenhum lado do espectro político entraria em acordo sobre o que são boas aulas de história, nem sobre o que significa uma consciência crítica.

 

O esquerdismo viceja nas escolas, nos sindicatos, nas ongs, porque se divulga apenas um ideologismo de cartilha, difuso mas vigoroso, com apelo sentimental e retórica violenta. A direita deveria defender a leitura de Marx a valer, porque é um pensador indispensável para entender a humanidade e o capitalismo.

 

Para derrubar o moral esquerdista nos jovens, nada melhor, também, do que fazer com que os alunos leiam extensas páginas de teoria marxista para esmorecer qualquer veleidade revolucionária. O saudoso escritor Janer Cristaldo gostava de dizer que não há fé que resista a uma leitura atenta da Bíblia. Estudar a religião, e as religiões, revela-nos as falhas da construção humana, evidencia a intenção dos autores, e permite preparar o combate aos seus pressupostos e dogmas. Assim como estudar as religiões (várias) em conjunto leva por relativizar a religião de origem. O leitor atento percebe, então, que religião é um artefato humano, um construto cultural.

 

A Bíblia, porém, tem grandes livros e proporciona prazer ao leitor, com milhares de histórias. Excetuando-se o “Manifesto Comunista”, com sua estética “allonsanfã”, não se pode dizer o mesmo do marxismo, em sua aridez. Tornar obrigatória a leitura de páginas de Gramsci, Lênin, Trotski, Celso Furtado, derrubaria até os professores. Nada disso, entretanto, parece entrar nas paredes da escola. O que grassa é a mística da esquerda, o charme da revolução, o sentimentalismo de origem cristão que angeliza os pobres. Não é a leitura das ideias de Che Guevara -um requentado nada original de outros pensadores – nem a sua carreira de revolucionário fracassado, mas a sua foto de mártir, fazendo um dublê de Cristo, que hipnotiza e fascina os que levam sua imagem na camiseta.

 

 

Uma boa escola deve semear dúvidas, e não reforçar ideologias, sejam de esquerda, de direita, ou crenças religiosas. Deve ser racionalista e iluminista, derrubando ídolos políticos, religiosos, de qualquer natureza.

 

 

A escola, que deveria sanar as limitações da formação recebida pela família, é um fracasso. Os professores são tão pouco valorizados que, admito, é constrangedor criticá-los, mas não dá para perdoar um crime grave: a maioria do professorado lê muito pouco.

 

 

Em um átimo de esperança, defendo que não se deve combater uma ideologia com sua extinção – além de impossível, resultaria no oposto indesejado, dando mais poder de sedução ao inimigo. Deve-se oferecer ideias – mais ideias.