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Em Caxias, Fernado Meligeni ensina tênis e critica projeto olímpico brasileiro

Em Caxias, Fernado Meligeni ensina tênis e critica projeto olímpico brasileiro

O ex-tenista Fernando Meligeni está em Caxias do Sul para uma clínica sobre o esporte no final de semana. Na sexta-feira, dia 6, no sábado, dia 7, e domingo, dia 8, ele ministra palestras, aulas e jogos no Clube Juvenil no Time for Tennis.

 

Em entrevista coletiva de mais de meia hora na tarde desta sexta-feira em uma loja do Centro da cidade, o tenista falou sobre o trabalho atual e criticou a política olímpica brasileira. 

 

"Infelizmente esse legado que tanto falam não é real. Você tem um legado normal que é uma injeção de dinheiro obrigatório. Quando você se postula para virar um país sede você tem algumas obrigações. Só que é a mesma coisa que uma empresa que contrata uma Gisele Bünchen para ser a garota propaganda e não consegue fazer um comercial com ela. Fica contratada lá, mas não se faz uma ação com ela. É assim que sinto o Brasil com a Olimpíada. Fez coisas por obrigação. Se vai pegar uma Olimpíada só para fazer isso era melhor não pegar. Esperávamos, como atletas, que moralizaríamos o esporte, que seria profissionalizado, que existiria um começo, meio e fim como nos outros países. Infelizmente eu vejo que vai acabar a Olimpíada e vai melhorar porque vai ter um monte de estádios a mais, mas não vai mudar o esporte no Brasil depois da Olimpíada", lamenta.

 

Meligeni foi número 25 do mundo e medalha de Ouro nos jogos Pan-americanos de 2003. Campeão de três torneios internacionais da ATP, semifinalista de Roland-Garros em 1999 e sete vezes campeão em duplas ao lado de Gustavo Kuerten, ele se caracterizou pela raça em quadra e por não ser trivial no comportamento e nas declarações. Questionado sobre a postura politicamente correta que impera no mundo do esporte ele foi enfático.

 

"Chata. Chata pra caramba. O mundo está muito chato. Se você não quer casar com uma oriental ou com uma x, y, z já é preconceito. Você não tem mais direito de gostar de nada. Tudo tem a ver com preconceito. O tenista não pode brincar com o adversário porque está tirando sarro. Você não pode bater uma raquete  porque está deseducando o filho de uma madame que tá vendo a televisão lá e fica brava porque bateu a raquete é mau exemplo. Eu não posso comentar na televisão porque eu tenho que dar exemplo. Então é todo mundo olhando para o vizinho, ao invés de olhar para a sua casa, para a sua educação. E está acontecendo no tênis. Já vi jogador sair de cueca da quadra e ele era irreverente. Hoje ele seria preso por atentado ao pudor. O mundo mudou. Infelizmente os tenistas e desportistas estão seguindo a regra." 

 

Atualmente, Fernando Meligeni tem programas de televisão sobre esporte e atua na formação de atletas. Ele acredita que o esporte ainda é tratado como elitista, mas por quem não tem informação, algo que ele trata como necessidade primordial para o desenvolvimento.

 

"Desde que parei de jogar há 13 ou 14 anos atrás, tenho olhado com muito carinho essa possibilidade de trazer um pouco de tênis para vários lugares. Tenho viajado o Brasil inteiro. Tenho trazido todos os níveis de tênis. Quando a gente faz uma clínica, temos que tocar desde o aficionado até os mais jovens, mais velhos, as meninas, os meninos. A ideia é trazer um pouco de informação. Contar histórias, bastidores do circuito. Se conta muita coisa. E na hora que entra na quadra tentar passar um pouco da minha experiência", explica.

 

"Um dos grandes problemas do esporte do Brasil é a falta de informação. Tem um monte de pai que tem um molecão jogando, mas não tem a mínima ideia se deve e como investir. Essas dúvidas são o que mais fazem com que a molecada chegue em determinada idade e pare de jogar tênis. Eu tento quebrar um pouco a ideia de que a criança vai jogar para virar profissional. É um esporte que você pode fazer amigos, fazer negócios, tem tantas alternativas. O tênis faz parte desses esportes que mesmo em ano olímpico se fala muito pouco".

 

 

Meligeni ainda falou sobre o livro que escreveu, sobre a cultura do esporte no país e sobre as lembranças do tempo de atleta. 

 

 

Ouça a entrevista completa no link abaixo.