Memória LEOUVE

Eles postergam, mas já estão condenados. Nós também

Eles postergam, mas já estão condenados. Nós também

“Como é que vamos resolver a nossa vida”. A pergunta lançada por um dos envolvidos nas escutas da Policia Federal nos dá uma pálida noção do que deve passar pela cabeça de quem está prestes a ter sua vida mudada porque o castelo de cartas que construiu em conluio com parceiros está por ruir.

 

 

Aí fico imaginando o deputado Jardel, que está por ter seu mandato cassado, mas que resiste bravamente por meio de liminares. Dorme como? Está certo. O caso de Jardel é mais simples de decifrar. Ele empurra com a barriga por não ter o que perder. Sabe que será cassado, mas sua opção não é se entregar. É postergar. Pode-se dizer o mesmo de Eduardo Cunha na Câmara.

 

Mas e estes envolvidos em crimes, em corrupção. O que os aguarda é a condenação. Mas antes dela o fim da mamata. Para de entrar o dinheiro fácil e começa a esboroar o dinheiro acumulado para o pagamento de advogados – quiçá ironia das ironias- tenham que pagar propina em alguma esfera do judiciário (pasmem, também no poder judiciário pode haver instâncias e autoridades corruptas).

 

O certo é que, quem esteja envolvido em processo judicial sabe que se tem o que receber ao final do processo o tempo não passa. Tudo demora. Quem é réu e busca postergar uma decisão final também tem este tipo

de condenação. Passa de cabeça baixa nos grupos em que antes era liderança, deita o travesseiro na cabeça e não dorme e, castigo dos castigos, não raro, sofre a condenação – velada ou explícita – dentro do próprio lar, esposa, filhos, irmãos, pais. Melhor nem pensar. Ou, reformulando, melhor nem pensar no caso destes indiciados serem inocentes. Porque a pena deles já começou bem antes de transitar em julgado o seu processo.

 

Enquanto isto vemos um policial ser morto ao hesitar em ferir de morte um bandido que não sofre das mesma dúvida sobre quem deve matar ou morrer. Enquanto isto vemos colegas de trabalho relatando casos em que foram vítima de assalto conformarem-se: tudo bem, saí ileso.

 

A péssima impressão que tenho, é a mesma dos caras que esperam pela condenação. Acho que mais cedo ou mais tarde um assaltante me encontra. Só espero sair inteiro. Enquanto isto empurro com a barriga, redobrando cuidados a cada esquina.

 

 

E é nestas horas que nos igualamos aos investigados da polícia federal e também indagamos: “como é que vamos resolver a nossa vida”.