Memória LEOUVE

É preciso debater a reforma

É preciso debater a reforma

Não é preciso muito estudo pra saber que a educação no Brasil está em crise, e que é preciso fazer alguma coisa urgente pra mudar essa realidade que a cada dia é pior.

 

É certo que nos últimos anos o acesso à educação formal cresceu em todos os níveis, mas a qualidade do ensino não acompanhou esse crescimento. Pra se ter uma ideia, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) está estagnado desde 2011 e conhecimento dos jovens em Língua Portuguesa e Matemática piorou para o nível de 1997.

 

Também por isso, os resultados obtidos nas avaliações são pobres e pioram e, ao mesmo tempo em que o país vê crescer o número de jovens que chegam ao ensino superior, o ensino médio está falido e o número de jovens que abandona a escola cresce na mesma levada.

 

Quase dois milhões de jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola em todo o país, e isso não pode continuar.

 

Por isso, é fundamental estabelecer reformas no ensino médio que torne a educação mais efetiva pra formar cidadãos e mais atraente pra manter o jovem nos bancos escolares, e nesse sentido, o anúncio do ministério da educação vem responder a essa necessidade.

 

O problema é que a proposta do governo de reformar o ensino médio é uma imposição decretada por medida provisória, sem debater o caminho escolhido com a comunidade escolar.

 

Não estou dizendo aqui que a proposta não é boa. O que estou dizendo é que ela não pode ser a única. Criar áreas de especialização, reduzir as matérias obrigatórias, flexibilizar o conteúdo, ampliar a carga horária e instituir o ensino integral pode ser a melhor saída, sim.

 

Mas essa decisão não pode ser tomada por um governo, seja o governo que for. Porque se toda política de educação ao mesmo tempo reflete e contribui para um projeto de sociedade, é preciso perguntar qual é o projeto de sociedade que se sustenta em decisões arbitrárias, impostas de cima pra baixo sem um amplo debate que privilegie a participação dos mais interessados: os próprios estudantes e a comunidade escolar?

 

Ninguém nega que transformar o ensino é urgente. Afinal, os resultados são lastimáveis, o currículo é do século passado e a evasão é um bicho de sete cabeças.

 

Mas um assunto tão importante quanto uma reforma no ensino precisa ser decidido a partir de um longo debate que necessariamente precisa incluir toda a sociedade, de alunos a pais, de professores a diretores, de administradores públicos a políticos, passando por gestores públicos e proprietários de instituições privadas.

 

Não faz muito tempo, nós assistimos a uma ampla reforma do ensino proposta sem diálogo neste país pelos governos militares. O resultado desastroso nos cobra um alto preço até hoje. A questão é saber se vamos repetir o erro.