Depois da repercussão negativa das afirmações do secretário da Fazenda do estado, Giovani Feltes, em uma palestra para dezenas de empresários em Carlos Barbosa na segunda-feira, dia 12, quando ele reconheceu a disseminação do uso de caixa 2 em campanhas eleitorais e criticou a hipocrisia em relação à prática, uma nota oficial da secretaria tentou minimizar o estrago. No texto, a Sefaz afirma que o secretário utilizou as expressões "de maneira genérica, sem vinculação a um fato objetivo e específico".
Na verdade, Feltes chegou a dedicar cerca de dois minutos ao tema, e afirmou que estaria depondo contra si mesmo, ao questionar: "Quem tem dinheiro de caixa 2 que não contabiliza nunca? Jogou no bicho. Então eles podem eleger vocês; igrejas, de qualquer credo; tráfico, já pensaram nisso?". Em seguida, admitiu a própria culpa, lembrando que nunca perdeu uma eleição desde os 18 anos: "Desculpa a provocação, mas nós todos temos um pouco de culpa".
Para a secretaria, as declarações de Feltes não passam de "frases esparsas e sem vinculação com o tema principal" da palestra. Mesmo assim, a nota admite que "o secretário reconhece que foram colocações fora do contexto e infelizes".
A fala de Feltes foi gravada e repercutida pelo jornal Contexto, de Carlos Barbosa, e a secretaria reclama que ela ganhou repercussão "mesmo com o alerta preliminar de que se tratavam de manifestação em caráter reservado". No áudio, fica claro que o secretário pretende atribuir suas atribuições “em off”, o jargão jornalístico utilizado para solicitar que informações não sejam divulgadas. Feltes chegou a solicitar que a imprensa não tomasse notas.
Entre as declarações, o secretário chegou a simular um possível diálogo com um apoiador: "Me dá uma mão para a campanha?”, pediria o candidato. “Eu tenho R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 50 mil, mas não coloca meu nome na tua prestação de contas”, responderia, no exemplo. Aos cerca de 70 empresários presentes, Feltes perguntou: “Quem dizia que não?".
Para o secretário, que afirmou que a restrição da doação de empresários para campanhas eleitorais, que entrou em vigor este ano, tornou uma eleição mais difícil, afirmou que não é “anjo”, e que “anjos” não são eleitos. "Anjo não se elege nem vereador em Carlos Barbosa. A gente tem que afastar essa hipocrisia", sentenciou.
Nota da Secretaria da Fazenda na íntegra:
“Na última segunda-feira (12), a convite da ACI (Associação Comercial e Industrial) de Carlos Barbosa, o secretário da Fazenda, Giovani Feltes, realizou palestra abordando a situação das finanças públicas e os desafios para colocar o Rio Grande do Sul em um patamar de equilíbrio fiscal.
Falando por quase duas horas para uma plateia formada por empresários da cidade, o secretário tratou dos problemas estruturais do Estado, traçou uma retrospectiva histórica sobre as medidas já adotadas por diferentes governos e destacou os projetos que buscam a reforma do Estado ora em análise pela Assembleia Legislativa.
Como tratou-se de uma explanação longa, o secretário lamenta que frases esparsas e sem vinculação com o tema principal acabaram ganhando repercussão após publicadas por um jornal local, mesmo com o alerta preliminar de que se tratavam de manifestações em caráter reservado.
São expressões que o secretário se utilizou de maneira genérica, sem vinculação a um fato objetivo e específico. O secretário reconhece que foram colocações fora do contexto e infelizes.”
Confira o trecho da palestra do secretário Giovani Feltes: