Memória LEOUVE

De racismo e gravações

De racismo e gravações

 

Tudo o que se diz hoje em dia tem potencial para transformar o mundo ou, no mínimo, a vida de quem disse, é uma questão de dimensão do sujeito que profere a sentença.

 

 

Isto porque hoje em dia tudo se grava, tudo se filma, tudo se dissemina numa velocidade inimaginável. Somos vigiados e censurados. O que era permitido hoje já não é mais. São outros tempos. Não se pode fazer piada de gay; não se pode fazer bullyng. Chamar alguém de negro tem que ser mensurado. Só pode se for no contexto de situar a raça à qual a pessoa pertence. Mas quando é que no dia a dia alguém se refere a outra pessoa como caucasiano? Então é preciso refrear e ao mesmo tempo ser criativo. Contornar assuntos espinhosos sem perder a essência do que se quer dizer é vital, ainda mais para quem publica seus textos ou fala em rádio.

 

Talvez esta seja a verdadeira distinção entre cronistas profissionais e escritores amadores – um parêntesis aqui: como há novos e bons cronistas nas redes sociais e nos microblogs. O fato é que se muitos são bons, existem aqueles que apenas querem destilar veneno e ódio. É como na Câmara dos deputados, onde parece só haver Eduardos Cunhas e Valdires Maranhãos. Pode até ser que não sejam a maioria, mas como admitir que justo eles tenham o destaque e a posição privilegiada que tiveram? Serão os outros, aqueles que neles votaram tão ruins quanto o próprios?

 

 

Voltando ao assunto inicial: tudo que se diz pode provocar estragos e antes ainda das redes sociais, um ministro letrado e ilustrado Rubens Ricúpero foi flagrado pelo canal do satélite aberto dizendo que o que era bom para o governo a gente fatura, o que não é bom escondemos. Foi algo assim.

 

Recentemente, aqui neste Rio Grande do Sul, o técnico de futebol Argel, em algum espaço que não sei ao certo  qual seja, foi flagrando dizendo que seu time, o Inter, passaria de trator sobre o adversário no clássico mais importante do estado. Pois o Grêmio ganhou o grenal e a vida de Argel e de todos os colorados virou um inferno. Culminou com a decisão do técnico após novo insucesso do time.

 

Este episódio chega a ser prosaico, se comparado a tantas revelações captadas em grampos telefônicos no centro do poder e também nas periferias. Então, o que vale é a lição do professor e conferencista Leandro Carnal. Ser ético e não mentir dá menos trabalho e evita que se seja apanhado de calças arriadas.  É dele também a sentença proferida durante o Congresso da Movergs há duas semanas e que tem a ver com o início deste texto: “se você é racista, por favor esconda, não conte. É feio”. Melhor seguir o conselho.