Memória LEOUVE

Coxinhas, mortadelas, pamonhas e outros pratos indigestos

Coxinhas, mortadelas, pamonhas e outros pratos indigestos

Não é de hoje que eu acredito que deve haver um controle externo pra medir as atividades de juízes e promotores e evitar o abuso de poder patrocinado pelo Judiciário, coisa que, aliás, acontece.

 

Primeiro, porque é no Judiciário que, ao fim de todos os caminhos, pode se decidir entre a vida e a morte. Depois, é porque, afinal, ninguém está acima da lei, e é preciso sinalizar isso.

 

Veja bem, eu defendo o controle do Judiciário assim como defendo o controle da mídia, por exemplo, porque é preciso, acima de tudo, ter responsabilidade no que se faz.

 

Mas isso não quer dizer nem de longe que eu concordo com o que os nossos nem tão nobres deputados federais fizeram na surdina, na alta madrugada de um dia que chorava a morte de atletas e jornalistas vítimas da tragédia na Colômbia.

 

Definitivamente, o que a maioria daqueles que deviam nos representar sinalizaram com as aberrações aprovadas ontem e que descaracterizaram as 10 medidas anti-corrupção encaminhadas ao Congresso como projeto de iniciativa popular foi um tapa na cara da sociedade.

 

Porque o que eles fizeram foi garantir a impunidade dos colarinhos brancos, impedir a punição aos partidos, foi não permitir a punição do enriquecimento ilícito de funcionários públicos, e foi garantir a manutenção das manobras que levam os crimes a prescrever, muitas vezes antes do julgamento.

 

Pra mim, todas essas medidas que eu apontei acima mostram o covil em que se transformou há muito tempo o Congresso Nacional, e todas elas são ainda mais graves do que a tentativa de punir juízes e promotores nos casos de abuso de autoridade.

 

Porque é preciso sim punir o abuso de autoridade, e porque quem não deve não teme.

 

Mesmo assim, até essa medida de controle acena pra um desejo mesquinho de vingança, porque mesmo que a medida possa ser justa, essa, definitivamente, não era a hora de discutir e aprovar isso.

 

O sinal que vem do Congresso é mais do que claro: está mesmo em andamento uma operação pra estancar a sangria da lava-jato, como disse aliás o líder do governo no Senado, Romero Jucá, em uma ligação telefônica interceptada pela Justiça.

 

E essa operação – que ninguém se iluda – tem o aval de todos os partidos, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do presidente do Senado, Renan Calheiros, que aliás tentou passar o projeto ontem no Senado, com urgência, sem discussão e sem vergonha na cara.

 

Mas também tem o dedo do presidente Michel Temer, e não adianta ir pra tevê dizer que não vai patrocinar medidas pra enfraquecer as ações contra a corrupção, porque é exatamente isso que todos querem fazer no lamaçal do planalto central desta república de bananas.

 

 

O certo é que, entre coxinhas, mortadelas e outros pratos indigestos, hoje nós somos mesmo todos pamonhas.