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Comandante não descarta sindicância para apurar se houve excesso da BM em Caxias

Comandante não descarta sindicância para apurar se houve excesso da BM em Caxias

O tenente-coronel Antônio Osmar da Silva, titular do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO/Serra), não descarta a abertura de uma sindicância interna para apurar se houve excessos na ação da Brigada Militar após a manifestação contra o governo Michel Temer (PMDB), no final da noite desta quarta-feira, dia 31, em Caxias do Sul.

 

O comandante afirma que todas as provas que forem levadas até a polícia serão apuradas. “Qualquer situação que tiver, que apresente para nós, a Brigada vai tratar sempre da mesma maneira que foi, com toda lisura e legalidade. Até porque a nossa legislação castrense (NR: legislação que regulamenta as Força Armadas) é muito mais rigorosa que a civil”.

 

Segundo o comandante, sempre é possível a abertura de uma sindicância interna. “Agora, as imagens mostram bem o que aconteceu. As provas que trouxerem pra nós, vamos tratar da maneira que a legislação nos permite, que é apurar os fatos”, completa.

 

O advogado Mauro Rogério Silva dos Santos, 51 anos, envolvido no caso, foi procurado pela reportagem e não houve resposta até o fechamento desta matéria. 

 

Através de seu perfil no Facebook, Santos apresenta sua versão sobre os fatos, afirmando que tentou interceder em favor de jovens que estavam sendo abordados pela polícia, mas que teria sido rejeitado.

 

“Tenho vários machucados, mas estou bem. Tenho hábito de buscar meu filho a noite na faculdade. Em torno de 22 horas, recebi uma msg (sic) dele pedindo para que eu o buscasse na praça central de Caxias do Sul, onde estava acontecendo uma manifestação pelo Fora Temer. Me dirigi para lá e já não haviam muitas pessoas. Não o vi. Recebi um pedido de ajuda dele dizendo que estavam precisando de um advogado, pois havia jovens sendo presos a uma quadra da praça, quando se dispersavam. Cheguei e vi uma moça e um jovem, certamente menor, de mãos na parede e os policiais se preparando para conduzi-los à delegacia. Retirei minha carteira e apresentei aos policiais para saber da razão da condução dos jovens e qual o nome deles. De imediato fui repelido com empurrões e não tive a condição de advogado reconhecida, talvez por eu ser negro", escreveu. 

 

Na sequência da nota, ele garante que o filho, que está preso sob a acusação de ter agredido o policial com um chute na cabeça, não deve permanecer no presídio, e afirma que está trabalhando para soltar o jovem.

 

"A polícia tem dificuldade em entender que estas duas condições podem andar juntas. As agressões foram muitas. Meu filho está preso na penitenciária de Caxias do Sul. Dizem que ele chutou um policial e com isto atentado contra a vida dele. Meu filho é estudante de direito, por longo tempo atleta de canoagem, tendo representado o Brasil em diversas competições nacionais e internacionais. O presido não é o lugar dele. Vou trabalhar para tirá-lo de lá”.

 

Até o momento, a BM não recebeu denúncias formais contra a ação dos policiais.

 

Relembre o caso

 

Após um ato que reuniu cerca de 200 pessoas no Centro de Caxias do Sul na noite desta quarta-feira, dia 31, uma confusão entre manifestantes e policiais resultou na detenção de quatro pessoas e lesões em dois policiais na esquina das ruas Sinimbu e Dr. Montaury.

 

Por volta das 23h50min, uma patrulha da Brigada Militar foi acionada para acompanhar os movimentos finais do protesto e abordou um casal que estava na manifestação e, que, depois da dispersão dos manifestantes, continuou a ação de vandalismo pichando vários estabelecimentos.

 

Os brigadianos abordaram o casal e foram impedidos de continuar a ação por um outro manifestante, que se identificou como advogado e tentou fazer uma intervenção. De acordo com o tenente Ozéias, que comandava a operação, houve desacato e o advogado precisou ser contido. “Ele não queria deixar os vândalos serem conduzidos, foi preciso usar a força”, afirmou.

 

Conforme informações de um manifestante, que não quis ser identificado na matéria, os policiais usaram de truculência para fazer a abordagem. “Eles já chegaram batendo. Deram nele só porque ele é preto. Não esperavam que ele fosse advogado e que daria toda essa confusão”, revela.

 

O soldado Cristian Luiz Preto, 32 anos, e o sargento Paulo Roberto da Silva Wentz, 45 anos, ficaram feridos durante a confusão. O sargento teve três dentes quebrados durante a ação. 

 

Já o soldado Cristian, atingido com o chute na cabeça, teve traumatismo craniano e precisou ser socorrido pelo Samu. O policial passa bem e a previsão é de alta nesta quinta-feira.

 

A ação resultou na detenção de quatro pessoas. O advogado Mauro Rogério Silva dos Santos, 51 anos, com antecedentes por lesão corporal, estelionato, furto/descuido e ameaça, autuado por agressão, o filho Vinícius Zabot dos Santos, 21, (sem antecedentes) por tentativa de homicídio contra um soldado da Brigada e um adolescente de 17 anos que estava pichando estabelecimentos junto de Suelen Cecília dos Santos, de 30 anos.