Memória LEOUVE

Chove e a gente se preocupa

Chove e a gente se preocupa


Seres humanos sempre tiveram preocupações. É da nossa essência. Lá na pré-história era preciso ir em busca de calor e proteção. Caçar e não ser caçado. Mais recentemente garantir um lar para a família, dar aos filhos condições minimamente dignas.

 

 

Mas é importante notar como de um lado algumas preocupações primitivas estão presentes de uma forma indesejada: a autopreservação frente à escalada da violência. A região da serra, com ênfase em Caxias do Sul, experimentou um final de semana prá lá de violento. Crimes banais ou execuções sumárias fazem parte do cardápio de horrores que pudemos vivenciar mais ou menos de perto. Em regra, esta violência nos atinge a todos, pois está no nosso quintal, ocorre com o nosso vizinho e não temos a certeza de que amanhã uma bala perdida não cruze nosso caminho.

 

Fechar-se em casa e tomar cuidado ao acionar o controle remoto da garagem são cuidados mínimos. Não se pode dar chance ao azar ou aos marginais.

 

Mas não é só a segurança, ou a falta dela que nos aflige. Pensamos, logo existimos. Vivemos em constante aflição, seja por não ter como pagar o aluguel, seja porque o colega implica conosco ou por termos a impressão – com fundamento ou sem – de que nosso relacionamento está por um fio.

 

E em tempos de redes sociais, de espionagem e em que a maledicência dá ibope, cuidar da própria imagem virou tema central de nossa atenção. Veja, só, um drone, com transmissão direta e ao vivo pelo smartphone sai por tão somente 800 reais. Intimidade na sacada ou com as cortinas abertas são desaconselhadas. Falar o que não deve por telefone ou mandar mensagem via whatsapp pode ser usado contra quem escreveu antes da bateria do seu celular acabar.

 

São tempos difíceis. É início de semana e chove muito. Mas o Natal vem aí e precisamos aproveitar o tempo antes que ele escorra entre preocupações que não nos permitem viver o hoje de forma plena.