Memória LEOUVE

Cem dias de guerra

Cem dias de guerra

Se é hábito conceder uma trégua de 100 dias a todo novo governante antes de formular uma primeira avaliação do funcionamento das mudanças na engrenagem do poder, então depois desse prazo é preciso cobrar.

 

Porque o eleitor vai às urnas com a esperança de eleger um prefeito que corresponda aos seus anseios e às necessidades das comunidades, e precisa de respostas.

 

Mas se um novo governo firma sua identidade, um conceito, e mostra a sua cara nos seus primeiros 100 dias, então, a cara que a gente vê nesse primeiro período do governo de Daniel Guerra em Caxias do Sul é a cara da dúvida.

 

Porque Guerra mais comprou brigas do que construiu a paz, mais se envolveu em polêmicas do que privilegiou o debate, mais antecipou crises do que as resolveu, mais empurrou as promessas adiante do que efetivamente realizou.

 

A verdade é que o cartão de visitas de Guerra traz a marca de um gestor privado que parece ainda não ter entendido a diferença fundamental ao se tornar um gestor público.

 

Daí o perfil centralizador, a falta de diálogo e as dificuldades de relacionamento que geraram crises com os médicos, que resultou em paralisações e levou à saída do secretário de Saúde, problemas com a Visate, a quem sempre criticou, e com o vice que quis demitir num jogo de vaidades como se fosse um diretor demitindo um funcionário qualquer de uma empresa privada por justa causa.

 

Mas, por mais justa que a causa lhe pareça, Guerra parece ter optado pelo confronto gratuito, apostando que o imenso apoio popular que recebeu ia ajudar a vencer a queda-de-braço, mas só colecionou desentendimentos e alguns embaraços.

 

É claro que o prefeito mostrou alguns pontos positivos, como o corte das verbas de representação dos CCs, a racionalização do uso da frota, a liberação do segundo corredor de ônibus, as conversões à direita, a redução do reajuste da água e a manutenção do valor da passagem do transporte coletivo.

 

Mas, mesmo assim, não cumpriu a principal promessa de campanha, que era abrir a UPA da Zona Norte, e segue empurrando a crise da falta de vagas na educação infantil pra Justiça resolver.

 

Pra mim, se esses primeiros 100 dias de governo servem para avaliar o comportamento da nova administração, o resultado preocupa.

 

 

Mas também pode ser que esses percalços sirvam de lição e preparem um novo período, com mais tolerância e diálogo no lugar do confronto, e que, finalmente, Guerra arrume a casa e comece, de uma vez por todas, a implantar de verdade o projeto para o qual foi eleito e estabelecer uma imagem positiva perante a cidade, e não apenas a quem o elegeu.

 

 

Porque, caso contrário, esse cenário de crédito, trégua e expectativa com a população dificilmente vai se repetir.