Memória LEOUVE

Cem dias de espera

Cem dias de espera

Se é hábito conceder uma trégua de 100 dias a todo novo governo antes de avaliar o funcionamento da engrenagem do poder, então depois desse prazo é preciso cobrar.

 

Porque o eleitor quer um governo que corresponda aos seus anseios e às necessidades das comunidades, e precisa de respostas.

 

Mas se um governo reeleito anuncia mudanças, mas a sua cara nos seus primeiros 100 dias é a mesma do governo anterior, então, a cara que a gente vê nesse primeiro período do novo governo de Guilherme Pasin em Bento Gonçalves é a cara da espera.

 

Porque Pasin está imerso nas dificuldades financeiras que herdou de seu primeiro mandato e, imbuído pela certeza de que seria preciso enxugar a máquina pública e cortar na carne para garantir o equilíbrio financeiro, apostou na implantação de um estado necessário e em um entendimento com os parceiros que, ao menos nesses primeiros meses, não ocorreu.

 

A impressão é que, diante da imensa vitória conquistada nas urnas para o segundo mandato, Pasin estaria acima dos desejos comezinhos e poderia impor o modelo em que acreditava, mas essa impressão ruiu como um castelo de cartas marcadas.

 

Porque, infelizmente, nem sempre os interesses da política são os mesmos da população a quem deveria servir, e, muitas vezes, o que fala mais alto é o compromisso com o apoiador, a distribuição do cargo e a manutenção da vantagem concedida, e não a necessidade de oferecer um bom serviço à população e a urgência de eliminar carências.

 

Dessa maneira, Pasin se tornou refém de um acordo que ele se obrigou a fazer pra não correr riscos e inscrever definitivamente seu nome na história de Bento como o legítimo herdeiro e sucessor de Darcy Pozza, e sucumbiu.

 

Nestes 100 dias, Pasin não fez o que queria, e nem o que prometeu, não eliminou secretarias, não diminuiu a máquina pública, não instalou um gabinete técnico, mas iniciou a implantação da prometida secretaria de segurança e, ponto a favor, parece ter finalmente encaminhado uma solução pra novela do novo presídio.

 

 

Nestes 100 dias, Pasin cortou onde pode e às vezes onde nem devia, acertou na demissão de terceirizados, mas errou na redução do quadro e dos serviços em áreas importantes como a saúde, e ainda flutua entre as nomeações insuficientes e a voracidade dos parceiros por cargos em comissão e funções gratificadas.

 

 

E enquanto alarga o olhar para um horizonte muito além dos parreirais, a esperança é que Pasin mantenha o fôlego da aprovação popular e o tempo necessário pra acertar o rumo, porque a impressão que fica é que esses primeiros cem dias apenas adiaram a instalação do novo governo, que por ora, parece ter sucumbido diante do fisiologismo dos parceiros.