Memória LEOUVE

Cartas marcadas, interesses escusos

Cartas marcadas, interesses escusos

Infelizmente, hoje a gente pode afirmar com todas as letras que o impeachment de Dilma Rousseff não encerrou a crise brasileira nem na economia e nem na política, mas, ao contrário, aprofundou o abismo lamacento do poder no planalto central do país.

 

A única notícia boa nesse imbróglio todo é que o interesse do povo pelos destinos desta nossa república de bananas já não permite que o país fique à mercê de aventureiros.

 

 

Pelo menos é isso que a gente espera, e ao menos é isso o que a gente pode pensar depois do espetáculo patrocinado pelo trio Temer, Maia e Calheiros na coletiva em que garantiram que não patrocinam anistia ao caixa dois e que não querem abafar as medidas de combate à corrupção propostas pelo Ministério Público Federal e que contam com amplo apoio popular.

 

Porque, pra mim, só o fato deles terem que vir dizer isso é sinal de que era exatamente isso que eles queriam, mas que só não vão poder levar adiante este descalabro porque o governo não tem apoio popular, porque está atolado em escândalos até a garganta e porque a opinião pública simplesmente não deixa mais.

 

Outra coisa difícil de engolir foi a explicação do temerário presidente depois do que disse o ex-ministro Marcelo Calero sobre o episódio do apartamento de Geddel na Bahia, e que causou a sua demissão de Calero e o ressurgimento da tropa de choque pra acabar com a biografia dele.

 

Mas o cara reafirmou com todas as letras que foi pressionado por Temer e por Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, pra atender ao interesse privado do ex-anão Geddel. A política tem dessas coisas, teria dito em tom paternal o presidente Temer, que teria ficado em dificuldades operacionais por não atender aos paroquiais interesses de Geddel.

 

É difícil mesmo de acreditar, mas o que não se pode duvidar é que essa nova crise não se encerra com a demissão de Geddel, porque se o próprio Temer disse que foi "arbitrar conflitos", então o juiz estava vendido. Porque não havia conflito algum pra arbitrar, mas em tese apenas a pressão de um ministro corrupto pra corromper um ministro honesto e liberar uma obra ilegal.

 

O pior é que, mesmo se a gente quiser acreditar em Temer, o resultado é ainda mais questionável, porque, se ele arbitrou alguma coisa, quem saiu ganhando da arbitragem presidencial foi o corrupto, que só caiu depois da avalanche de críticas, uma semana depois que Calero caiu atirando.

 

Resta saber agora como será com outro homem forte de Temer também envolvido na maracutaia. Por enquanto, tudo igual como foi antes com Jucá e agora com Geddel: Eliseu Padilha está tranquilo e segue prestigiado no cargo.

 

Até quando, ninguém sabe.

 

 

O que fica cada vez mais claro é que não foi Calero quem colocou Temer em dificuldades operacionais, e que só a opinião pública pode mudar definitivamente este jogo de cartas marcadas e interesses escusos.