Memória LEOUVE

Bloco de mortos vivos

Bloco de mortos vivos

 

Esta manhã, ao acordar da ressaca da não ressaca, sabe a preguiça do nada fazer dá uma ressaca violenta, não é? Vi reportagem sobre acidente com um carro alegórico que deixou três mulheres gravemente feridas no hospital, assisti uma meia dúzia de vezes a gafe na entrega do Oscar. Mas o que me chamou a atenção mesmo foi um bloco carnavalesco que se não me engano era de Curitiba. O bloco era de pessoas fantasiadas de zumbis ou mortos vivos. Aquelas pessoas seguiam pela rua, pálidas e sem sorrir, tudo parte da encenação.

 

E aí vi a metáfora claramente. Somos todos parte de uma nação zumbi. Eu e meus colegas hoje aqui sentados não fomos à praia, como a maioria dos que nos ouvem estão aqui na cidade. Lamentamo-nos por isso, afinal as fotos dão conta de um mar caribenho em pinhal e Imbé – inacreditável e diria. Mas como se queixar de ter que trabalhar, quando milhões de brasileiros querem e procuram por isso sem sucesso?

 

Há sim – e já me confundo com os números – 24 milhões de pessoas à procura de um emprego e não conseguem. Como fazem para pagar o condomínio ou a conta da luz? E quando termina o pote de margarina na geladeira e precisam repor? E o creme dental? a cada minuto a lembrança de que não há dinheiro este mês e certamente não haverá no próximo.

 

 

E os outros milhões de pessoas que foram vítimas ou tiveram filhos ou pais vitimados pela violência? Vemos cada dia com mais naturalidade batalhões de presos detidos em celas improvisadas ou algemados a corrimões e nosso instinto de compaixão dá lugar ao sentimento de ódio e de vingança. Se estão ali é porque voluntariamente fizeram alguém sofrer.

 

 

A eles já não basta roubar. Agridem e matam sem o menor remorso. E o cidadão do bem, cada vez mais com menos sentimento de piedade. Prega o olho por olho que desde pequenos aprendemos ser errado. É isto que este país tem feito conosco. Não há mais o gentil homem brasileiro. Somos fruto do meio, um meio em que um dos maiores desejos é poder andar armado. Não queremos mais pular carnaval, queremos só poder trabalhar e ter um revólver pra acabar com a raça de quem ameaçar nossa integridade.

 

 

 

A que ponto chegamos…