Memória LEOUVE

As maracutaias do Senhor X

As maracutaias do Senhor X

De bilionário a foragido, a trajetória fulminante que levou o empresário Eike Batista da glória à lama em uma década é de certa maneira uma verdadeira síntese de como interesses públicos e privados, favores e propinas se entrelaçam em promiscuidade nesta republiqueta de bananas.

 

Hoje, o homem que já foi o mais rico do Brasil e o oitavo mais rico do mundo tem a prisão decretada por lavagem de dinheiro da propina do petrolão e está intrinsecamente ligado a outros escândalos, desde os tempos do tucanato até o decênio lulopetista.

 

Antes de fugir sabe-se lá pra onde, se pros states ou terras bavaras, Eike tentou delatar os comparsas pra ganhar as prerrogativas e benefícios de quem colabora na Justiça, mas a artimanha não colou como antes colavam seus arroubos de empresário ousado e visionário nas bolsas de valores mundão afora.

 

Eike é peixe graúdo que gostava de mar alto, e agora aparece preso na rede do propinoduto que tece o maior escândalo de corrupção do Brasil, acusado de desviar milhões de dólares em crimes contra investidores em contratos de petróleo e outras mumunhas.

 

A polícia indica que há suspeitas de ocultação de mais ou menos US$ 100 milhões de dólares, quase R$ 340 milhões em contas no exterior, amealhados por conta da corrupção.

 

O cara aparece ainda no esquema de liberação de financiamentos da Caixa Federal e do Fundo de Investimentos do FGTS, aquele mesmo liderado pelo ex-todo-poderoso e agora presidiário Eduardo Cunha, que negociava empréstimos pra empresas amigas em troca de generosa propina.

 

A questão é que as maracutaias do Senhor X já eram conhecidas desde que ele era um mero milionário. Afinal de contas, ele se tornou o homem mais rico do Brasil quando as ações da sua empresa de petróleo OGX atingiram preços estratosféricos logo depois que ele anunciou que ia explorar poços que prometiam um capital de 1 trilhão de dólares em petróleo, na esteira do famigerado pré-sal, e começou a cair quando o mundo descobriu que na verdade, os poços estavam secos.

 

 

Mas nem a derrocada do homem que viveu as jogadas, as trapaças e os bastidores da história de uma fortuna de mais de US$ 34 bilhões que virou pó em nenhum momento salvam suas escamas de tubarão da corrupção. Ao contrário.

 

A verdade é que há muito tempo a justiça brasileira tem evidências mais do que suficientes para colocar Eike na prisão por muitos anos, mas nada foi feito até agora. E como nesta nação de botocudos, os pesos e as medidas nunca são os mesmos aqui e lá adiante, Eike tinha seu passaporte no bolso, não estava em qualquer lista da polícia federal e podia deixar o país na hora que quisesse. E, como coincidências não existem, a prisão dele só foi decretada dois dias depois que ele pegou o avião.