Memória LEOUVE

As leis, o rombo, a reforma e as salsichas

As leis, o rombo, a reforma e as salsichas

A falta de credibilidade e de condições morais de um governo atolado em denúncias de corrupção, a chantagem dos aliados desse mesmo governo em nome de um fisiologismo mesquinho, a repercussão negativa dos pontos já anunciados pelo governo e a defesa da necessidade de uma CPI pra abrir a caixa preta do sistema precisam inevitavelmente adiar a reforma da previdência como ela tem sido apresentada no Congresso.

 

Eu não sou contra a necessidade de um ajuste nas regras de aposentadorias e pensões. Afinal, todo mundo sabe que é preciso garantir a sustentabilidade das despesas e do pagamento dos benefícios no longo prazo num país que está envelhecendo em ritmo rápido.

 

Mas há distorções que precisam ser corrigidas, e há informações que precisam ser esclarecidas muito antes de aprovar medidas violentas que vão cobrar todo o preço da crise dos trabalhadores mais pobres, que vão ter que rezar muito pra chegar vivos a uma aposentadoria aos 70 anos.

 

A verdade é que é preciso, antes de penalizar o trabalhador, garantir mais justiça na divisão desse bolo, e acabar com as aposentadorias especiais de políticos, juristas e militares, por exemplo, e pensar a previdência como um serviço imprescindível pra população, e não como uma fonte de receita pro mercado.

 

Mas antes de tudo, é preciso esclarecer como funciona o sistema e desmistificar o rombo e cobrar as dívidas bilionárias que somam quase meio trilhão de reais. É isso mesmo: mais ou menos 500 empresas devem mais de três vezes o anunciado déficit do sistema em 2016.

 

E entre esses devedores estão empresas do governo, como a Caixa Federal, a prefeitura de São Paulo e algumas das maiores empresas privadas do país, como o Bradesco, a JBS da Friboi, a Marfrig e a Vale, todos entre os 20 maiores caloteiros do INSS.

 

Por isso, precisamos exigir que o governo primeiro cobre essa dívida, que é dinheiro sagrado de aposentados e pensionistas, antes de cobrar mais sacrifícios de quem sempre pagou a conta sozinho.

 

Fora isso, a gente vai seguir sendo enganados pelo discurso oficial que propõe a retirada de direitos de milhões de brasileiros simplesmente porque não sabemos onde está a verdade e porque não temos nenhum controle sobre as informações produzidas pelo governo.

 

E é exatamente nesse sentido que a CPI da Previdência é muito bem-vinda.

 

Se não for assim, a gente vai continuar refém das leis, que, como já disse alguém que conhece muito bem o mundo da política, são como salsichas: deixam de inspirar confiança assim que sabemos como elas são feitas.

 

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