Memória LEOUVE

A desmobilização que favorece a canalha

A desmobilização que favorece a canalha

Alguma coisa mudou no cenário nacional desde aqueles protestos que reuniram milhares de pessoas país afora a partir de 2013 e que acabaram com a queda do governo Dilma no ano passado e o arremedo de manifestação em defesa da Lava-jato realizado ontem em algumas cidades do país.

 

A gente pode achar muitas explicações pra falta de mobilização, desde o erro estratégico de defender o governo Temer, seja pelo silêncio ou pela falta de crítica às reformas, passando pela ausência dos tucanos e peemedebistas por motivos óbvios e pela carência total de credibilidade de movimentos como o MBL e o Vem pra rua.

 

Mas o que explica ainda mais o desinteresse da classe média é a decepção com o que veio depois do impeachment. Porque a população continua contra a corrupção, isso é certo, mas parece cansada desta crise política interminável e onde não se pode confiar em ninguém, e agora se sente ameaçada pelo congelamento dos salários pra garantir o ajuste fiscal, pela reforma da previdência que cobra o preço do trabalhador comum, pelo desemprego e pela economia triturada pela crise.

 

O problema é que essa desilusão dá ainda mais força pra quem quer estancar a sangria do combate à corrupção. Não se iludam, porque nos bastidores, os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – tentam agora desqualificar a força-tarefa.

 

Por isso, não vai ser à toa que nos próximos dias vão ressurgir com força os projetos como o que trata do abuso de autoridade e teses como a desqualificação das delações da Odebrecht.

 

Com a bênção do pato da Fiesp e a incapacidade da classe média em mostrar força sem o apoio de tucanos e temerários.

 

E enquanto ficam culpando o jogo de futebol, a ausência dos repórteres da globo chamando pras ruas e o festival de rock que cantou jingle de campanha política no autódromo lotado, nós seguimos desgovernados.

 

E, sem capacidade de reação num país dividido, assistimos a canalha preparar o golpe final.

 

 

O que vem por aí, não tenham dúvidas, senhoras e senhores, é a intimidação de policiais, o cerceamento do trabalho dos procuradores e a desqualificação dos juízes pra garantir sobrevida aos políticos corruptos. E esse, meus caros, é o risco maior dessa hora.