Ninguém duvida que é preciso fazer alguma coisa pra estancar a sangria do sistema de seguridade social no Brasil e equilibrar uma conta que não fecha, que aumenta gastos a cada ano e que projeta um cenário de insolvência, com a população vivendo mais e menos jovens em idade produtiva pra sustentar o regime.
Se hoje o rombo do INSS está perto dos R$ 150 bilhões, é óbvio que a coisa tende a piorar ainda mais se nada for feito. Por isso, mesmo que o regime geral da previdência não seja deficitário, muito antes pelo contrário, é preciso fechar a torneira.
O problema é que a reforma da previdência proposta pelo governo de Michel Temer esta semana usa a velha receita de cobrar de quem tem menos e não mexer nos privilégios dos poderosos.
Do jeito que está, a reforma é trágica e cruel para os trabalhadores. Na prática, por exemplo, essa reforma vai impor para os trabalhadores mais pobres a aposentadoria aos 70 anos, com a necessidade de contribuir por 50 anos para alcançar o teto dos benefícios em uma lei que impõe a idade mínima para buscar o benefício em 65 anos.
A grosso modo, a reforma de Temer indica que, se o trabalhador quiser ganhar o benefício máximo no tempo mínimo, terá que começar a trabalhar aos 15 anos.
O problema é ainda maior porque o governo quer cobrar a conta do pobre trabalhador comum, mas não mexe nos vespeiros dos inadmissíveis benefícios de juízes, promotores, políticos e militares, por exemplo, que geram quase a metade de todo o rombo da previdência.
Definitivamente, parece que o governo ainda não entendeu que o povo até está disposto a mais sacrifícios pra arrumar a casa, mas ninguém quer pagar a conta sozinho.
Cá pra nós: se o governo quer mesmo aprovar a reforma, é preciso garantir que todos façam parte do esforço coletivo de organizar as contas públicas. É preciso que fique claro que todos darão alguma parcela de contribuição.
Caso esse não seja o sinal, não será possível superar a crise. E se ficar claro que os privilégios serão mantidos, o futuro da mudança será o mesmo de outras tentativas: o fundo da gaveta.