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A cada hora, 500 mulheres são vítimas de agressão, aponta pesquisa

A cada hora, 500 mulheres são vítimas de agressão, aponta pesquisa

Mais de 500 mulheres são vítimas de agressão a cada hora no Brasil. O número alarmante faz parte de um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta quarta-feira, dia 8, celebrado há cem anos como Dia Internacional da Mulher.

 

A pesquisa mostra que 4,4 milhões de brasileiras foram vítimas de agressão física em 2016. A estatística indica que a violência física atinge 9% do total de mulheres maiores de 16 anos no país. Além disso, 29% das entrevistadas afirmaram ter sofrido algum tipo de agressão ou ameaça.

 

Segundo a pesquisa, realizada pelo Datafolha, 61% dos agressores são conhecidos das vítimas,e 19% das entrevistadas indicam o próprio companheiro como autor da agressão, enquanto 16% indicam relacionamentos anteriores. A maior parte das agressões, 43%, ocorre dentro de casa, seguida pela violência praticada na rua, apontada por 39% das entrevistadas.

 

"Não à toa a maior parte dos agressores são conhecidos. Em geral começa em casa, com o pai ou o padrasto, depois passa a ser o namorado, o companheiro, o ex-companheiro. E, em meio a este cenário, convivemos com um padrão de dominação masculina que não apenas define o uso dos espaços públicos e privados, mas que define o que é permitido ou não. Quando se trata do uso da violência por parte do homem para regulação das relações, isso é socialmente tolerável. É aquela ideia de que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher porque são conflitos que devem ser resolvidos na esfera privada, ainda que seja de forma abusiva", explica a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.

 

A pesquisa mostra ainda que 52% das mulheres não denunciaram o agressor. Algumas afirmaram que buscam socorro de familiares ou amigos.

 

Além da violência, o Datafolha mostrou que 40% das mulheres com mais de 16 anos sofreram assédio dos mais variados tipos em 2016: 20,4 milhões (36%) receberam comentários desrespeitosos ao andar na rua; 5,2 milhões de mulheres foram assediadas fisicamente em transporte público (10,4%) e 2,2 milhões foram agarradas ou beijadas sem o seu consentimento (5%). Adolescentes e jovens de 16 a 24 anos e mulheres negras são as principais vítimas.

 

"Sobre o assédio no transporte público, a lógica é a mesma. Quando existe a tolerância social em relação a alguma prática, não existe constrangimento em exercê-la. Há tolerância em relação ao assédio, o que permite que essa violência seja tão rotineira ", afirma Samira. "E as respostas públicas para isso têm sido muito frágeis. Há segregação da mulher do espaço público, e não existe uma transformação da cultura mostrando ao homem que o corpo da mulher é privado e que ele não tem o direito de tocá-lo", afirma Samira.

 

Perfil

 

O estudo mostra diferenças significativas na percepção da violência: os índices são mais altos entre as mulheres mais jovens (70%), mais instruídas (52%), entre as mais ricas (52%), entre as que se identificam como pretas (47%) e entre as moradoras de regiões metropolitanas (48%). A pesquisa contou com o apoio do governo do Canadá e do Instituto Avon, e foi feita entre os dias 9 e 11 de fevereiro deste ano em 130 municípios em todas as regiões do país. Foram ouvidas 2.073 pessoas e a margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.